sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Estórias - parte final.

Já muito aqui escrevi sobre o Carnaval. De início, sempre critiquei; depois, entendi que era uma crítica que não levava a lugar nenhum, afinal, o carnaval é um produto cultural brasileiro consumido no mundo todo. 
Necessário é, portanto, saber extrair o que de melhor o carnaval pode oferecer e abstrair o restante. Desta vez, vu tentar descansar e fazer algo mais parecido com férias, possível.

Encerro também o ciclo de estórias do Veraneio do Tio Laudelino. Essa, por acaso, tem tudo a ver com essa época do ano. Publicado em 08/02/2013:


"A "vingança" carnavalesca


Dizem que nos tempos do bloco dos Teixeira, lá no fundo da Picada Velha, onde foi criado, Tio Laudelino flertava com a folia que era de dar gosto. Hoje, contudo, parece detestar o carnaval, haja vista que até das mulatas quase nuas da televisão ele reclama. Se bem que reclamar, ultimamente, tem se tornado o esporte favorito do Tio: oh véio ranzinza! Mas, e sempre tem um mas em tudo, naqueles dias da véspera do momo, Tio Laudelino tava mais faceiro que lambari de sanga. O Bento e a Vera chegavam  a rir sozinhos pelos cantos, afinal, achavam que o velho tava “no papo”. Eu, porém, ainda que conhecesse pouco o Tio – muito em função das belas férias que passava lá fora, quando guri – tinha para comigo que o Laudelino aprontaria uma das buenas! Em verdade, vos digo: a certeza me rondava!

Pois no almoço da sexta-feira de carnaval o anfitrião sentou à ponta da mesa com um sorriso ‘de orelha a orelha’, prometendo uma “baita notícia”, que alegaria a todos. Bentinho e Verinha, nesse momento, regrediram aos tempos de criança e chegavam a soltar granidos de emoção. Cousa fiasquenta! Depois de dar dois tombos numa costela uruguaia; aliás, uma das boas coisas do litoral era a costela uruguaia: macia, suculenta e saborosa, Tio Laudelino começou a história toda fazendo uns floreios, coisa meio estranha até para um gauchão sem rodeios e, ao cabo, disse que venderia a fazenda. Tia Maria derrubou a faca que tinha na mão e, por pouco, não abriu um talho no pé; prosseguiu dizendo que tinha gostado da temporada na praia e que se mudaria de vez para Arroio Teixeira. Nesse momento, quando achei que teria de aparar Tia Maria, que fatalmente se "passaria" com aquela história, tive que acudir Verinha que desmaiou num golpe só. Bentinho, bem, esse chorava feito um bebê.

Foi nesse momento que o Tio Laudelino deu uma gargalhada que aposto que se ouviu da rua (uns guaipecas que passavam se ouriçaram). Me mandou pegar uma bacia de água gelada e tocar na Verinha, bem como gritou com o Bentinho que parasse de chorar, afinal, não criara filho “fresco”. Recompostos, mandou que sentassem no sofá e começou um sermão. A estas alturas quem estavas as gaitas era eu, com a cara dos “filhinhos do papai”. Tio Laudelino dizia que eles deviam se envergonhar de tramar às suas custas e às suas costas; que uma semana antes do “passeio”atendera o telefone meio sem querer (o Tio era a moda antiga e detestava telefone. Celular então, credo!) e na linha era um tal de João Alberto, arquiteto, querendo saber acerca do projeto de reforma e ampliação da casa da praia, e que o “seu Bento” e a “senhora Vera” haviam ficado de dar um sinal para obra e estava aguardando o cheque do “proprietário”: “Claro que mesmo sendo um índio grosso, logo vi que de mim é que o tal fulano tava falando”. Daí, que resolvera entrar nessa história toda, como um bobalhão, para ver até aonde a “cara de pau” dos “queridos filhos” iria.

“Me surpreendi!”, bufou o Tio: “achei que vocês eram ‘deitados’ e que se aproveitavam da minha boa vontade e do meu dinheiro, mas nunca pensei que chegariam a tanto”. E continuou: “vocês são tão ridículos, que acreditaram nessa estória dos tempos da velha Carocha: e eu lá vou vender a fazenda? Enlouqueceram!?” Mas antes de tudo, disse ter resolvido dar uma olhada no projeto e gostou do que viu. Por isso, resolveu contratar o tal arquiteto para fazer uma casa nova, no terreno da frente que também era dele mas que, por motivos que nem eu entendi, nunca contou. Quanto a casa velha? Deu para o Bento e a Vera. “Querem reforma? Trabalhem, façam e paguem!” E já aviso de que a casa nova, “por justiça” ficará para o Antônio Carlos e o Torresmo. Aliás, eles já sabem disso e da ‘papagaiada’ de vocês!”

Depois, como se nada tivesse acontecido, deitou na rede e sesteou a tarde inteira, para poder estar nos “trinques” para o carnaval da sociedade, à noite. Tio Laudelino, ao cabo, estava vingado e feliz. Muito feliz.

O que aconteceu depois? Bom, isso é matéria para outro conto, noutra hora."

***

Bom carnaval a todos e juízo!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O velho xis e a moda burguer

Eu me criei comendo xis, o nosso tradicional lanche gaudério. Ainda sou um assíduo frequentador do Xis da Dona Laura, em São Chico, onde sempre como o que para mim é o melhor Xis Galinha que existe. Eu sou do tempo em que o Xis da Dona Laura era num trailer. A maioria era assim quando surgiu. Hoje está bonitão, refinado, mas mantém a essência do lanche, felizmente. Lembro, também, com certa nostalgia do cachorro quente do Xis do Vandi, embora há muito não o coma. Nem sei se ainda tem o mesmo gosto.

Também sou um amante do xis à moda antiga. Aquele em que tudo era posto dentro pão e depois ia para a prensa, deixando o pão crocante e macio ao mesmo tempo. Hoje em dia, o xis ficou meio gourmet e a moda é prensar o pão só com a salada e colocar a carne, o ovo etc. depois. Sei lá, fica o pão mole, com aspecto de requentado. Muitos já deixei de comer em razão disso.

Em Novo Hamburgo eu era fã do Xis do Vavá, na Domingos de Almeida atrás da antiga prefeitura. Um trailer à beira da calçada. Nunca mais vi o Vavá, mas o seu Xis é inesquecível e a moda antiga. Muitos ponto tradicionais hoje em dia ficaram mais refinados e o xis já deixou de ser um lanche popular, vide o preço. Em NH tem uns tradicionais aí que tudo é opcional. Um simples xis coração bate na casa dos R$ 20. Pode isso, Arnaldo?

Mas, ainda assim, o xis já teve seus dias de melhor glória. Agora o que impera é a moda do hambúrguer. Pois em Novo Hamburgo há uns 3 anos veio o primeiro, dando um toque artesanal a ideia das grandes redes de fast food. Hoje, já nem sei mais quantos existem. Mas são muitos. Agora mesmo vi uma matéria em algum site sobre o melhor de Novo Hamburgo que, pasmem, sequer sabia que existia.

O mais incrível é que só comi uma vez nessas hamburguerias, por coincidência, na primeira de todas, Não me encantou. Confesso que não sou muito fã desse tipo de lanche. Lanches do gênero, como diz o meu amigo Felipe Gabbi, "tem que ter gordura". O hambúrguer, convenhamos, não tem esse espírito.

Mas não serei preconceituoso. Também confesso que fiquei curioso com esse melhor de Novo Hamburgo, que fez a pessoa se abalar de Porto Alegre para experimentar. Visto de fora (pelas fotos), não parece ter um apelo visual ao ambiente que, muitas vezes, esconde o foco no principal: o produto, ora bolas. Tem muito xis famoso de Novo Hamburgo que depois que ficou todo pomposo se destaca muito mais pelo ambiente do que pelo xis propriamente dito.

Ainda prefiro encaram uma espelunca a comer comida ruim só porque onde vendem é bonitinho. Se a cerveja é bem gelada, então, não faz diferença sequer o copo.

Eu ainda sou do tempo em que o que valia era o sabor da comida, por um preço justo. Se for o bom e velho xis, sem cebola caramelada e queijo cheedar e frescuras do gênero, eu sou sempre parceiro para encarar. Não importa onde seja, pode me convidar que eu vou.

É hora do almoço e fiquei salivando pelo xis galinha da Dona Laura.
Eh Rio Grande Véio.

Abraço e boa semana a todos.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Não é verdade?

Pelo que tenho percebido pelas redes sociais, a crise de fato deve ter encerrado, a julgar que muitos grupos de baile estão retomado suas atividades e outros, se fragmentando. De um vira dois. Posso estar enganado, mas somente os patrões de CTG é que vão gostar dessa ideia, afinal, com um grupo de baile a cada esquina, fica fácil barganhar preço e prostituir ainda ais a nossa classe.

Mas pode ser chatice minha, não é verdade?

Também é verdade que eu volto a tocar fandango este ano, com um propósito bastante específico, o que anunciarei em breve. Contrário senso, não fico mendigando baile para ninguém. Sei muito bem valorizar o meu trabalho e dos músicos que me acompanham. Não deixo família em casa para passear e tocar de graça.

Mas este sou eu, não é verdade?

Depois não adianta ficar reclamando que tá tudo ruim e que os bailes estão escassos.

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Eu vi e não acreditei. A moda no carnaval que se avizinha é a utilização de camisetas que servem de código entre os foliões. Camisetas comuns. Por exemplo, utilizar camiseta de time de futebol seria o mesmo que anunciar: "só pelo sexo".

São várias as cores e as mensagens "subliminares".

Depois, fica difícil achar que este país vai para frente, não é verdade?

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Prefeituras cortando verba de eventos tradicionalistas e esses, pasmem, deixam de realizar o evento. Foi assim com o rodeio de Caxias do Sul que, não raro, dá maior que o de Vacaria.

Um rodeio dessa envergadura consegue andar com as próprias pernas, não é verdade?

Tá na hora de parar de mamar nas testas do governo.

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Previsão do tempo promete fim de semana escaldante aqui nos pagos. Temporais a vista, não é verdade?

Veremos.

Abraço a todos.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Primeiro passo.

Lá se vão quarenta e cinco dias desde o início do ano e, por ora, ainda não mudei nada da minha vida. O que é mais difícil, pensar em mudar ou executar esta mudança? Zona de conforto ou medo? Dúvida ou inexatidão?

Todas parecem perguntas fáceis de se resolver, não é mesmo?

Mas respondê-las, de forma correta, nem sempre é possível.

Agora, inegavelmente, preciso mudar algumas coisas, olhar para o horizonte sob outra perspectiva e, é claro, dar o primeiro passo.

Ahhh, o primeiro passo!

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Prometi não abordar mais o tema política por um bom tempo. E o farei (ou tentarei).

Pensei esses dias em mencionar que estava decepcionado com os rumos do governo desse país. Aí lembrei que minha expectativa sempre foi zero, a julgar as pessoas que assumiram o comando.

A bem da verdade, começo a ter certeza que o nosso país nunca tomará jeito, Prosperidade será um movimento paliativo, vez ou outra.

Uma pena.

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Retardar a publicação deste texto de hoje serviu para abrir espaço para comentar acerca da goleada imposta pelo Paris Saint Germain no Barcelona. Quatro a zero fora o baile.

Para se ver como nem sempre tudo é o que parece.

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Hoje é aniversário do meu amigo Felipe Gabbi. Grande figura. Sempre de bem com a vida. Parabéns, brother!

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E segue a semana. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Estórias - parte 2

Seguimo-nos pela estória do Tio Laudelino. Pelo que pude perceber pelo número de acessos, tem bastante gente curiosa por aqui. Publicado originalmente em 25/01/2013:


"Defumando Ausências

Um croquete! Assim Tio Laudelino tava se sentindo depois de 3 ou 4 dias de praia, sol, mar, areia e, é claro, nordestão! Para o Tio, a cada dose de protetor solar que a Tia Maria lhe obrigava a passar no avantajado lombo, ficava mais parecido com um croquete, já que o nordestão trazia no a areia e esta facilmente grudava naquela meleca do protetor – credo! Entre um caipirinha e outra ( e eram muitas ao longo do dia), Bentinho dava umas incertas no Tio que, malandro, desconversava e logo reclamava do trago, quer da cachaça que não era de Santo Antônio “_São uns lacaios esta gente, Santo Antonio aqui do lado e trazem estas porcarias lá dos cafundós”; do limão “_Credo! O terrinha de limão amarguento tchê! Nem urtiga arde tanto na boca da gente.”; e até mesmo do gelo, quando não tinha mais nada para reclamar. 
Enquanto isso, Verinha batia perna pelas feirinhas e levava a mãe junto, a uma para ganhar o apóio da “véia” e a duas que, gastando tudo em salão de beleza, certamente não tinha um pila para comprar sequer um chapeuzinho de palha, para ficar a beira da praia.
Mais de uma vez, durante a estada à beira do mar, Tio Laudelino me perguntava o que eu tava achando do passeio e aproveitava para se queixar da saudade da lida: “_ Será que o 'Torresmo' tá cuidando direito das vacas? Apartou os terneiros que deixei na invernadinha? E o queijo? Aquele guri é capaz de ir na vila com os queijos e gastar todo o dinheiro em trago e no chinaredo” Aí já às gargalhadas. E completava: “fosse eu na idade dele faria isso”. E continuava rindo às gaitas. No fim das contas o Tio Laudelino até que estava se divertindo. Ahh, antes que eu esqueça, o 'Torresmo' hoje em dia é o administrador lá da fazenda. Na verdade ele é quase um filho para os tios, tanto que mora na casa grande num quarto só pra ele.
O 'Torresmo', na verdade, é filho do falecido Joãozinho e da também falecida Ana Laura. Ambos trabalharam para o Tio Laudelino e Tia Maria por muito tempo; criaram todos os guris mas queriam ter um filho deles. Depois de muita briga Ana Laura conseguiu, mas na sua idade a gravidez era de risco. Quando o 'Torresmo” nasceu a mãe não resistiu ao parto, tanto que Tia Maria virou sua mãe. O pai, Joãozinho, teve um infarto fulminante quando o guri tinha seis anos. Desde então, Tio Laudelino o cria como um filho e um tem orgulho do outro. O 'Torresmo', acreditem, é médico veterinário graças ao investimento do Tio. No dia da formatura eu juro que vi uma lágrima correndo no rosto do velho Laudelino (na formatura do Antonio Carlos ele só foi obrigado pela Tia; Bentinho nunca terminou a faculdade de administração e a Verinha logicamente nunca quis estudar. Para terminar o ginásio foi uma briga!)
O Ricardo (ou Torresmo) é o orgulho dos tios e também faz por merecer. Ano passado o Tio Laudelino comprou uma camionete novinha e deu de presente para ele. O Bento, principalmente, subia pelas paredes de raiva (risos – bem feito!). O chamam de “Torresmo” porque quando era pequeno era gordinho e adorava a iguaria. Daí o Bentinho inventou essa (só podia ser coisa dele!) e acabou pegando.
Na beira do mar dava para ver que o Tio Laudelino se defumava ao sol e sofria com a ausência do campo. Mas seguia ali - firme nos cascos - fazendo as vontades dos seus filhos “queridos”. Algo me dizia que Tio Laudelino tava se armando para aprontar alguma, afinal, no laçaço, ninguém podia com ele.

E a gineteada continua minha gente..."

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Bom final de semana a todos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Movimento.

Ontem, já tinha em mente tratar de um assunto que por aqui já é batido: a calmaria do verão nas cidades. Desta vez, contudo, por um viés diferente, a medida que eu não estava achando nada muito calmo, a bem da verdade.

Aí, hoje - quarta-feira (sim, a postagem está atrasada), a cidade de Novo Hamburgo parece mais devagar do que de costume. Pode ser que a movimentação mais intensa do início da semana se referisse ao início do mês, quinto dia útil e etc...

Bueno, vou prestar mais atenção e traçar um veredicto. Afinal, o ano "começou" ou não mais cedo em 2017?

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Na praia, ao menos em Rainha do Mar, confesso que não achei um movimento fora do comum. Tá certo que cruzei rapidamente e pouco me socializei, mas admito que esperava mais movimento, a julgar a movimentação intensa de veículos para o litoral a cada sexta-feira. Também, era janeiro. 

Mas, pode ser falta de atenção minha.

Tudo com o perdão da redundância, gize-se.

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Cruzei pelo município de Canela, ontem, e achei bastante movimentado. Mas, vai saber...

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O assunto hoje parece falta de assunto, certo? Talvez! A bem da verdade, cada vez que chegamos nesta época do ano eu me recordo do tempo em que morava em Porto Alegre. Não havia melhor época para curtir a Capital que não essa. Tudo andava e era rápido.

Novo Hamburgo não era muito diferente.

Mas, este ano, talvez pelo carnaval ser quase em março, tenho notado um movimento acima do normal para a época.

Ou eu estou ficando velho e chato.

Chato, preciso admitir, sempre fui.

Mas velho? Será?

Abraço a todos e perdão pelo retardo na postagem.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

E o baile, como segue?

O grande poeta, escritor, compositor, amigo e patrício Léo Ribeiro, com conhecimento de causa, publicou em seu Blogue quase que um desabafo mostrando a situação em nós, os músicos de fandango, temos passado nos últimos tempos. 

Tem sido uma vida dura e perniciosa. Já tratei do tema algumas vezes. Mas o Léo foi tão certeiro que pedi permisso para republicar aqui, fins de ampliar a discussão em torno do tema. Para conhecimento dos amigos acerca:


"A dura vida dos grupos de baile

"Quem me olha com apreço,
chapéu tapeado na testa,
não sabe o quanto padeço
quando estou longe de festa" 


Este é o refrão de uma letra que fiz para o conjunto Os Tiranos falando da visão ilusória que muitos tem do artista no Rio Grande do Sul. O povo encherga seus ídolos como pessoas diferentes imaginando que aquele momento de puro brilho em cima do palco é extensivo a vida toda, que ninguém, ali, tem problemas por vezes até maiores do que os outros. 

Na verdade a missão do músico é esta, levar contentamento ao seu público, só que ele, muitas vezes, disfarça grandes dissabores como a própria dificuldade de ali estar. 

Vamos pegar como exemplo um grupo de baile de médio porte. 

Para se montar um conjunto gauchesco mediano (estruturalmente falando) não se gasta menos que duzentos e cinquenta mil entre equipamento e ônibus. 

O preço que um grupo de baile desta envergadura cobra para animar um fandango gira em torno de 7 a 12 mil reais. Os grupos grandes (que não são muitos), vão de 13 a 20 mil. Os pequenos fixam o cachê de 2 a 6 mil. 

O envolvimento de técnicos, músicos, motorista, etc..., sempre falando de um conjunto nem oito nem oitenta, é em torno de 10 a 15 pessoas. 

Em suma. Com o que sobra, quando sobra, o conjunto tem que rezar para que tudo ocorra dentro da mais perfeita normalidade e não se danifique nenhum aparelho, não estrague a condução, ninguém adoeça... 

Enquanto isso, qualquer Zé Ruela sertanejo cobra dez vezes mais do que isto e nossos rodeios pagam de bom grado porque tudo que é dos outros é melhor. 

Mas os problemas não param por aí. 

Dentre os conjuntos, não há uma associação (para não dizer união) que padronize seus interesses e, por isso, acabam se devorando, seja por uma guerra de valores onde, para ganhar a concorrência, o grupo acaba baixando sua tabela, seja por, simplesmente, um não ajudar ao outro. 

Inclusive grupos tradicionais, há anos no mercado, baixam seus valores para ganhar espaço de seu concorrente. 

Os próprios contratantes, na maioria Centros de Tradições, não estão muito preocupados com a qualidade musical de quem convidam para animar seus bailes. Querem o menor preço. 

Até o prazer de gravar um disco e ver suas músicas fazendo sucesso já não é mais o mesmo. Primeiro porque a internet corre na frente e divulga o CD antes do mesmo ser lançado, não dando lucros ao autor, segundo porque as rádios, com raras exceções, não rodam mais músicas gauchescas e vão nos entupindo os ouvidos com sertanejos universitários. As antigas gravadoras que brigavam a tapa pelos artistas gaúchos, reduziram drasticamente seus trabalhos e quem quiser gravar, tem que pagar. 

E se as emissoras não tocam, a música não é ouvida e o conjunto tem que nadar de pala contra a corrente na divulgação de seu trabalho. Há quantos anos não vemos uma canção fazer sucesso como dezenas de músicas antigamente? 

Acrescente a tudo isto o perigo de nossas estradas; os fins de semana longe da família; as desavenças dentro do próprio grupo que originam, muitas vezes, pendengas judiciais e ações trabalhistas... 

E para o mal dos pecados, entramos nesta crise financeira onde o divertimento vem em último plano. 

Então, meus amigos de rádio, promotores de eventos, pessoas ligadas à música e povo que aprecia a cultura gaúcha. Valorizem os conjuntos riograndenses. Eles são compostos por verdadeiros heróis.


Léo Ribeiro"

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E o baile, como segue?

Abraço e bom final de semana.