terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Velho Casarão da Mimi



Cresci e me criei vivendo do seio de São Francisco de Paula. Por um ano morei em Cazuza Ferreira, então distrito mais pujante da cidade e muitas férias passei na Fazenda Boqueirão, entre as localidades do Chimarrão e do Cerrito, indo ali pela Estrada do Meio, morada dos meus avós maternos.


Quando eles estavam pela cidade, a morada era (e continua sendo para a Vó Neuza) ali na Barão de Santo Ângelo, ao lado das casas do tio Breno e do Seu Xano. Mas o que me encantava mesmo era a casa que tinha em frente, onde vivia a Mimi e sua irmã Áurea. Duas Senhoras, irmãs, pessoas de coração bom, que viviam num casarão centenário construído pelo pai das senhoras, Sr. Napoleão Moura, tabelião de São Chico. 

Para uma criança como eu ou o Maicon, meu primo, aquela casa também trazia todo o tipo de medo, afinal, parecia mal assombrada. Pois nunca conheci totalmente seus meandros, mas me lembro da sala e da cozinha. Pela primeira vez na minha vida vi uma pia com uma luminária, afinal, não ficava recostada a janela que dava pra rua.

Na garagem, um pouco afastada da casa, tinha um velho carro antigo, do esposo da Mimi, que vi uma ou outra vez. Talvez ali tenha iniciado a minha paixão pelos grandes clássicos da indústria automobilística.

O encantamento pela casa, porém, não passou com o falecimento da Mimi e depois da Áurea. Há mais de duas décadas, restava-nos cruzar por ela quando íamos visitar a vó Neuza ou no simples trajeto da casa da Vó Frida para a avenida Júlio de Castilhos.

Tempos atrás ainda referi com a Mariana que aquela casa poderia servir para criar um restaurante temático ou café colonial, capaz de fazer as pessoas, turistas, enfim, viverem a história da minha querida São Chico.

Hoje cedo, acordo com minha mãe mandando uma imagem que me fez voltar no tempo e ficar muito triste mesmo:





Nesta madrugada, em poucas horas, parte da história de São Chico, talvez a casa mais velha ainda de pé, o Velho Casarão da Mimi, virou cinza.

A Mimi tinha verdadeira paixão por aquela casa e me dói pensar o quanto teria sofrido, se viva fosse, tendo que ver as chamas consumindo uma grande parte da sua vida.

Será triste cruzar aquela esquina a partir de agora e não mais ver o Velho Casarão. 

Se foi o casarão e criou um vazio na minha infância. Terei de fechar os olhos para lembrar dos tempos dentro daquela casa, da Mimi, da Áurea e da época em que para ser feliz bastava apenas sonhar.

E foram tantos sonhos... 

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