segunda-feira, 30 de março de 2015

Sem inspiração.

A cada nova semana, um novo escândalo de corrupção surge na Capital Federal e ecoa pelo mundo inteiro. Fala-se agora na Receita Federal e já se faz referência ao BNDES. Isso só mostra duas coisas: uma, que a corrupção nesse país é institucionalizada, ou seja, é perene em diversas camadas do governo e da sociedade. Aqui, imperioso referir os escândalos que estão eclodindo e envolvem bancos, grupos de comunicação, mais empreiteiras e etc... Nossa história é manchada pela corrupção, pasmem. Duas, que mesmo assim o governo não cria vergonha na cara, faz de conta que não sabe e por aí vai. Por respeito ao povo brasileiro, a simples suspeita de envolvimento já deveria ser o suficiente para entregar os cargos. Aliás, o mesmo deve ser feito por parlamentares. Peçam para sair, numa cena digna de "Tropa de Elite" em algum cinema bem perto de você.

Se pensar que pode não sobrar ninguém para governar este país, pois estão quase todos envolvidos, caminhamos para um abismo sombrio e temerário. O que sobrará do nosso país? Quem haverá de nos salvar?

Vejam bem, mesmo com toda esta roubalheira, parlamentares ainda tem coragem de aumentar seus vencimentos. Mesmo com a política esfacelada, políticos se organizam para criar mais partidos. Perdeu-se o pudor nesse país. Ninguém mais teme a lei, a justiça ou a urna. Quando muito a urna, nas vésperas de eleição e, depois, volta tudo ao normal. É normal ser corrupto e corruptor nesse país.

A julgar que a oposição corrupta ataca o governo e o governo corrupto ataca a oposição, cada um lavando as mãos com a água barrenta que consegue, trilhamos o agonizante caminho das profundezas que dará ensejo para um grupo organizado tomar conta da administração nacional. A cada dia que passa, começo a enxergar mais claramente os militares no comando, pois serão os únicos organizados e não envolvidos, ao menos diretamente, com os escândalos que pipocam a cada semana em Brasília. O povo democrático cava a própria cova para enterrar a democracia.

Tá feia a coisa. Grandes empresas estão dando folga para seus funcionários, por falta de ter o que fazer. Não sei. Não se sabe o que acontecerá no futuro. Dias nebulosos virão. Como está difícil pensar em alguma solução para este país. Como está difícil.

Quem sabe alguns dias santos nos tragam alguma luz. Quem sabe...

Boa semana santa a todos. 

sexta-feira, 27 de março de 2015

O dia de Porto Alegre.


No dia em que saí de casa, começando ali uma nova fase da minha vida, confesso a todos vocês que senti medo. Estava deixando o aconchego do lar familiar e assumindo uma posição de independência na minha vida. Não sabia se eu me adaptaria, como iria ocorrer isso este processo todo, além de tantos outros questionamentos que rondavam a minha cabeça. No dia onze de abril de 2006 eu mudei-me para a capital do nosso estado, Porto Alegre, devido a compromissos profissionais. Para quem vê de fora, uma cidade caótica, violenta, suja, desarrumada...Para quem vê de dentro, uma cidade aconchegante, com muitas histórias pra contar e indiscutivelmente única. Minha paixão por Porto Alegre começou naquele instante e desde então, nutro uma profunda admiração pela cidade. Só mesmo São Chico que ganha de Porto Alegre. Por força do destino, no final do ano de 2007 acabei retornando para casa, contudo, a vontade do voltar a morar na capital persiste dentro de mim e não hesitarei em retornar quando houver oportunidade.
Na manhã de hoje, lembrei-me do meu percurso diário, minha rotina de ida para o trabalho. Deixava o apartamento que morava na rua Getulio Vargas, no coração do bairro Menino Deus e seguia rumo a zona norte. Cruzava toda a extensão da Venâncio e vinte minutos depois estava no Hospital de Pronto Socorro, aguardando a linha 431 na parada de ônibus. Subia a Protásio, entrava na Carlos Gomes e descia na esquina com a Plínio.  Na volta pra casa, o caminho era similar. Dividia moradia com um grande amigo, meu irmão Duda. Sinto falta das nossas conversas que varavam a madrugada.
As quartas-feiras destinadas ao meu colorado no gigante, as rápidas passadas pela redenção e pelo parcão quando voltava de carona com o Renato. As idas ao Zaffari para comprar o lanche. As gravações na casa do Cesar e da Carlinha (um fraterno abraço pra este casal de amigos, únicos), subir a Dr. Flores quase duas horas da manhã em virtude disso. As andanças corridas pelo centro, os dias trabalhados na SMOV, local que de quintal do satanás virou um paraíso. As caminhadas pelo Menino Deus e as péssimas recordações das viagens de trensurb. Tudo isso paira na minha cabeça e me faz sentir saudade dum tempo que nem é tão distante, mas que me marcou de forma profunda para o resto da vida. Sentimentos que Porto Alegre transmite a todos que lá moram e a todos que a conhecem de verdade. Uma cidade que a cada dia se rejuvenesce, mesmo tendo duzentos e trinta e sete anos (Agora, 243). Mais de dois século completados na data de ontem.



Vinte e seis de março, o dia de Porto Alegre. Feliz aniversário. 


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Publicado originalmente em 27/03/2009. Editado.

Bom final de semana a todos.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Tente dormir.

Meu grande amigo Eduardo, o Duda, tem trauma em andar de avião. Embora lhe conheça há mais de 25 (vinte e cinco) anos, confesso que até hoje não entendi bem o porquê deste pânico todo. Pois bem, nesta hora ele já está no nordeste brasileiro desfrutando das belezas que este país continental nos proporciona. Domingo, quando do embarque, tava mandando mensagem, me alertando do que fazer caso algo viesse a lhe ocorrer. Tive que rir, obviamente. Tratei, assim como todos os demais próximos, de acalmá-lo, dizendo que o avião é uma dos meios de transporte mais seguros do munto e etc e tal. Daí ontem caiu um avião na França, dumas das companhias alemãs mais seguras e eu logo pensei: tinha de ter ocorrido esta desgraça logo agora? Poxa, o Duda nunca tira férias... 
Não me surpreenderei se ele aparecer de ônibus, no retorno à Porto Alegre. (hahaha).

De qualquer sorte, sigo preferindo o avião ao automóvel.

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Ouvi dizer que muitos políticos estão pensando em trocar de partido, seja por questões ideológicas e, também, após as revelações prévias da operação lava a jato. Dentre os nomes, dos senadores gaúchos Paulo Paim (PT) e Ana Amélia Lemos (PP), respectivamente.

Eu não sei como eu reagiria a uma situação do tipo. Já tive minha preferencia partidária, embora nunca tenha sido filiado. Também não podia me chamar de militante. Por valores pessoais, abandonei o tal partido e, simplesmente, não "torci" mais para nenhum outro. Não sou adepto a política do "pular de galho em galho". 

Mas, claro, como disse, cada um sabe onde aperta o seu calo. Aguardamos.

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A cada dia uma teoria nova, quer do governo ou da oposição, acerca do desenvolvimento do país, quer relativo ao passado quanto ao presente e futuro. Concordo com algumas e discordo da maioria. FHC, Lula e Dilma fizeram boas coisas pelo país. Fizeram também, principalmente, muita porcaria.

Eita páreo duro este.

De qualquer sorte, que mudanças são necessárias, disso, não tenho dúvida.

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Nossos nobres deputados estaduais reajustaram o valor das diárias percebidos por eles (para que mesmo?) em mais de 26%. Realmente, chegamos no tempo dos postes mijarem nos cachorros. Vergonha na cara que é bom, nada!


Durma com isso (ou tente)! Boa sequencia de semana a todos.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Chasque da saída do outono

Seguimos chasqueando, falando das coisas do Rio Grande e do gauchismo.

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Embora motivos de saúde tenham me impedido de visitar o Parque do Trabalhador  de Campo Bom, para desfrutar da edição 2015 do já tradicional Rodeio, fiquei sabendo que foi um dos maiores dos último tempos.

Mas que momento!

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Por Falar em Rodeio, na próxima quinta-feira começa o Rodeio de Porto Alegre. A novidade deste ano é que as inscrições podem ser realizadas pela internet. É a modernidade em todos os cantos.

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"Balanço Guapo" é o título do primeiro disco do Grupo Carona, que já está em pré-venda, pelas redes sociais do grupo. Sucesso meus amigo!

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Completando 30 (trinta) anos agora em 2015, Os Mateadores mostra a primeira música do novo disco, que irá comemorar a importância da idade. Para quem gosta da simplicidade da lida gaudéria, "Assim, no Osso do Peito" é um primor aos ouvidos de qualquer gaúcho tradicional.

Bahh, que cousa buena e bonita esta música. Parabéns aos compositores: Marco Nunes, Halber Lopes e Cristiano Fantinel. 

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Dia 11/04, no Ginásio Quero Quero, em Ivoti/RS, baile de lançamento do disco "Porca Véia e os Gaiteiros do Cordiona". Uma grande festa que levará, certamente, Porca Véia ao palco para matar um pouco da saudade.

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Na próxima sexta-feira, dia 27, o grupo Som do Pampa estará no CTG Sangue Nativo, em Parobé, numa dobradinha com o grupo Que Momento Nativo.

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Momento que escrevo este chasque, visualizo um vídeo no youtube do conjunto Os Monarcas: pout pourri "Fandangueando", "Alma do Pampa" e "Do Rio Grande Antigo". Me fez viajar no tempo e lembrar das grandes festas da Várzea animadas pelo grupo de Erechim. 

Vem o inverno?

Abraço e bom final de semana a todos.

terça-feira, 17 de março de 2015

Ponte Brasil.

Ouço aqui e ali questões acerca das manifestações ocorridas no domingo. Governistas alegando que somente eleitores de Aécio estavam nas ruas; já os contrários ao governo alegando que o impeachment é a solução e que os atos pró Dilma são protagonizados pelo MST e CUT.

Curto e grosso, sabem o que acho?

Acho que o governo tem a real noção que a sua batata já assou e que se não tomar prumo a maionese vai desandar. Foi-se o tempo que a política do "rouba, mas faz" deixou de servir para o nosso povo. 

Sempre se roubou? Não tenho dúvidas! Mas o que se está fazendo para combater isso?

Outrossim, por ora, sigo achando que o "impeachment" não é uma solução plausível. Entendo que nossa constituição democrática pode não resistir a um segundo processo do tipo. Visão minha, obviamente.

E a coisa é por aí. Ainda há muita água para rolar por debaixo dessa ponte chamada Brasil.

Aguardamos.

Abraço a todos.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Chasque da sexta 13

Aos poucos a música gaúcha da região vai se movimentando, com fandangos, rodeios e festas tradicionalistas. Por exemplo, temos a última chance de acompanhar o rodeio de Campo Bom, que se encerra nesse final de semana. Também os CTG's, agora em março, retomam suas atividades artísticas e culturais. 

Então, que seja um bom ano para nossa música!

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O cantor Luiz Cláudio, no último dia 07, lançou seu novo projeto: "Luiz Cláudio e Baita Baile". Depois de cerca de 5 (cinco) anos comandando Os Garotos de Ouro, agora Luiz Cláudio segue a carreira com o novo grupo. E já tem música nova: "Tudo Isso e Muito Mais".

Buenacha uma barbaridade.

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Segundo meu amigo Márcio Rosa, o grupo Tchê Moçada prepara seu retorno aos palcos, com Alan Moreira na gaita.

Baita notícia! Ganha a nossa música. E muito.

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"Inverno Serrano" é o título do novo disco d'Os Serranos. Aliás, só pela capa já vale comprar o disco. Todavia, como já informado por aqui, é só música boa.

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Em breve, também novos discos de Os Monarcas e Os Tiranos. Enfim, 2015 promete!

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Por falar em Os Monarcas, o conjunto de Erechim já está cortando o país embarcado no novo ônibus. Mixaria hein...:




Uma beleza. Proporcional à qualidade e história do grupo.

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Bom final de semana a todos.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Sonhos e devaneios.

Assim como não acuso o Partido dos Trabalhadores, apenas critico quando toma posições que vão em desencontro com sua ideologia e trajetória, não expurgarei os políticos do Partido Progressista supostamente envolvidos nos delitos em apuração pela "Operação Lava a jato". Primeiro, que não tenho o perfil de acusador. Contrário senso, atuo na defesa do direito, da liberdade e, principalmente, do princípio constitucional da presunção de inocência. A política criminal brasileira, do primeiro prende para depois construir as provas para condenar, é nefasta. Mais nefasto ainda é que na grande maioria das vezes não há felicidade na construção das provas e mesmo assim o réu é condenado. Se tá ruim para político, imagina para o Zé da Vila que é suspeito de um crime "só"... por ser o Zé da Vila. Aliás, falar em política criminal no universo brasileiro chega a ser ofensivo ao tema.

Pois assim como não se pode prender o Zé da Vila sem prova e expô-lo ao ridículo e à mensuração e condenação da sociedade, abrir lista de nomes de suspeitos em inquérito policial, também. Pois já se conduziu de forma errônea, a meu ver, o processo da Ação Penal 470, o mensalão, quando no ímpeto de pôr políticos na cadeia para satisfação de ego do Ministro Relator, desejo da mídia e suposto clamor da sociedade, suprimiu-se direitos e se condenou alguns mesmo sem provas robustas. Indícios, são meras fórmulas de suposta prática delitiva. Servem, no máximo, para dar ensejo à ação penal. Jamais para condenar. Jamais! No Brasil, contudo, com a falta de comando evidente, desde muito, os Juízes passaram a achar que são deuses. Hoje, pasmem, já têm certeza. 

Não se pode incorrer no mesmo erro, agora. A palavra "petralha" me causa repulsa, pois, coloca na mesma vala todos os militantes do PT. Conheço pessoas do mais alto gabarito, incorruptíveis, que se mantém lá porque ajudaram a fundar o partido e querem que o mesmo volte aos seus primórdios. E certos estão eles. Errados são os que a cada mero dissabor saem beijando outras bandeiras, dizendo-se comprometidos com a ideologia partidária. Quem não respeita a si próprio haverá de ter ideologia partidária? Também não vou chamar o PP gaúcho de nada e sequer os políticos supostamente envolvidos. Não são sequer réus do Poder Judiciário ainda.

Isso, do envolvimento, em tese, de partidos alheios ao PT no processo de corrupção da Petrobrás e etc., só demonstra que realmente uma reforma política é necessária urgentemente. Nela, os partidos deverão deixar de ser tão importantes. Nela, deverá se impedir a criação de novos partidos nanicos e caça niqueis. Nela, restará bem claro as sanções por envolvimento com o crime. Os partidos políticos no Brasil se enxergam na condição de instituição. Pois não são. Aliás, convenhamos, não fazem falta alguma. Todos, sem exceção, abandonaram suas ideologias em torno de algo maior, a sede por poder e dinheiro.

Queres conhecer um político de verdade? É só não pagar mais salários e outros benefícios. Sobrarão vagas. Devaneios meus, esclarece-se.

Dizem que ontem a Sra. Presidente fez um pronunciamento em rede nacional, no qual teria colocado a culpa da crise e dos altos preços de energia e combustíveis, na economia mundial e na seca do sudeste. Até pode ser. Mas deveria ter colocado a culpa em si mesmo, afinal, ela não lembrou disso durante a campanha, ou alertou a sociedade sobre o que vinha pela frente. É aí quem vem minha crítica ao PT: está incorrendo no mesmo erro dos antecessores, dos demais partidos e não dá o exemplo positivo. Não deixe, partido dos trabalhadores, que a falta de humildade faça com que o Brasil esqueça das coisas boas que já fizeste. No dia que assumir tua culpa, talvez os demais partidos, tão culpados quanto tu (e também fazedores de coisas boas ao país), haverão de fazer o mesmo. Ou deixarão de existir.

Eu de novo dando uma de otimista na terra do nunca. Não adianta, não perco a mania de sonhador.

Boa semana a todos.

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PS.: Pois o falecimento de Inezita Barroso é a pá de cal para a música brasileira de raiz. É duro o golpe na música sertaneja. Que descanse em paz.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Ruminando a dor

Atordoado, como referi no último texto, a forma que fiquei quando soube da morte de José Rico. Como um admirador da boa música, não tenho dúvidas que na música brasileira se abre uma lacuna, daquelas fendas que não se fecham jamais. Denota-se quando uma perda é irreparável quando todos, sem exceção, vêm a público lamentar. No caso do Zé Rico, músicos de todas as gerações e gêneros reconheceram sua importância e a dor da perda. 

Com propriedade, o grande amigo e meu primo, Antônio Dutra Júnior, um mago das palavras - como bem já defini preteritamente,  escreve e descreve este momento com sensibilidade e sapiência, em sua coluna na revista Generation, sendo que pedi permissão, concedida, para republicar seu artigo:


"Quando acordei não te vi que desespero!

Morreu o Zé Rico. Recebi a notícia durante a tarde, na aula de produção e manejo de ruminantes e, não por acaso, passei o resto do dia ruminando uma dor diferente. Não era parente, amigo, conhecido, ou mesmo um ídolo. Em toda a minha vida, nunca fui de ser fã enlouquecido de nenhum artista em especial. Minha admiração sempre foi pela música sertaneja, pela gauchesca, pelo talento popular brasileiro, pelo que toca a minha alma, não importando ser brega, velho, tido como ridículo por outrem.

Hoje, em especial, a música sertaneja emudeceu. Morreu uma voz, talvez uma das que mais traduzia a essência do que é o sertanejo como um todo. Quem nunca ouviu pelo menos uma canção sua? Zé Rico era extravagante, excelente músico e pendia muito para o lado choroso e sofrido do gênero. Em resumo, concentrava em seu estilo uma miscelânea adorável do tipo de música que divide tantas opiniões.

Imagine aquele sujeito bonachão, cheio de correntes e anéis grossos adornando os dedos, os óculos escuros inconfundíveis, a barba pra lá de cafona, cabelinho anos 70 e camisa floreada. Que figurino! Rapaz, para andar assim em pleno século XXI é preciso ter muita personalidade. Mas, em sã consciência, quem somos nós senão criaturas enjauladas, prisioneiros de um estilo de vida dito normal, mas loucos para sair gritando pela rua “vá pro inferno com seu amor”? Zé Rico nos representava nessas horas.

E o sofrimento, ah, esse entrega o cristão nas horas mais propícias. Já vi muito sujeito alegar ojeriza das composições sertanejas, que tanto enfatizam a dor de amor, de cotovelo, de corno, seja lá qual for a definição, cantar de olhos cerrados abraçando um copo uma moda daquelas de rasgar o peito ao meio. Um sujeito abichornado n’alguma mesa de bar chorando a agrura de amar e não ser amado; ou pior, ter sido traído. O garganta de ouro Zé Rico traduzia com maestria o tamanho dessa dor ao dizer “esta noite eu dormi um pouquinho, sonhei com você”.

“Com a morte do companheiro, a saudade vai chegar. Aqueles bons e velhos tempos nunca mais irão voltar”. O destino é cruel e traiçoeiro, foi assim com os caminhoneiros da canção, é assim agora com Milionário e José Rico, dupla de nome característico do meio sertanejo, com suas junções óbvias e ao mesmo tempo inimagináveis. É piegas, é batido, sim, é tudo isso que criticam, mas embala a vida de muita gente. A música sertaneja não tem o mesmo glamour de outros gêneros, mas carrega consigo uma legião de fãs justamente por contemplar o simples e não esconder o orgulho de ser matuto, simples, humano.

Lamento profundamente a morte deste ícone, o silêncio de uma das vozes mais inconfundíveis e marcantes do clã sertanejo. Zé Rico levava às mãos ao ouvido enquanto cantava, puxava os erres e entortava a boca como ninguém jamais fará. Alcançava tons extraterrestres e obrigava todos nós, pobres mortais, a baixarmos dois ou três tons nas cifras para podermos celebrar suas músicas nas rodas informais de viola. Ou então, já embalados em alta madrugada, a esganiçarmos as gargantas ignorando a afinação e mantendo apenas o sofrimento em uníssono.

Nossas vistas se escureceram e o final da corrida chegou. De repente, em menos de minuto, você se transformou num vulto e logo desapareceu. Minhas lágrimas molharam a fronha do meu travesseiro. O legado é extenso e conhecido de norte a sul. Minha reverência a este artista marcante que compõe a trilha sonora de seus admiradores eternamente. Morre o Zé Rico, mas quem empobrece somos nós.

Por Antônio Dutra Jr. - Revista Generation, 04/03/2015"

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Bom final de semana a todos.

terça-feira, 3 de março de 2015

É duro o golpe.

Há quem diga que o movimento que busca o impeachment da Presidente da República é golpe orquestrado pela direita, que não se conforma por ter perdido nas urnas a eleição. Por óbvio que as alegações partem de militantes, partidários e simpatizantes do governo que aí está. Eis as benesses de se viver num país democrático, ainda que acusações são maneiras escusas de demonstrar a liberdade de expressão. Digo isso em ambos os sentidos; ou seja, não defendo os que amparam o governo ou os que buscam o impedimento da atual mandatária do país. Aliás, não entendo esta preocupação dos líderes do PT com este manifesto democrático, afinal, sabemos que a pressão popular - por si só - não basta para derrubar um governo (afora pelo voto, tão mais fácil e tão pouco compreendido pelo povo brasileiro). Não creio que Dilma cairá. Não creio que a acensão do Vice suplantará os problemas do país. Sou um incrédulo, pois.

O Partido dos Trabalhadores deveria se preocupar com a origem das manifestações: pasmem, os trabalhadores. Os caminhoneiros têm puxado a fila. Os agricultores têm vindo logo atrás. Ou seja, pessoas simples em meio à sociedade têm erguido a voz para os desmandos governamentais. Quer dizer que metem a mão no dinheiro da Petrobrás e aumentam o preço do combustível para o povo? Quer dizer que o governo gasta mais que, o já muito que arrecada, e aumentam a conta de luz para o povo? Quer dizer que o partido feito pelos trabalhadores, quando governo, suprime direitos trabalhistas dos seus? É duro o golpe. Para ambos os lado; explico.

Para o governo, que vê pessoas simples reclamando o seu quinhão. Não é a direita golpista que vem puxando a fila das manifestações, mas sim, os trabalhadores. É navalha na própria carne. São aqueles que fomentam a economia do país, e não os patrões, que tem tentado parar o país e mostrar que tá difícil pôr o pão de cada dia na mesa. E como está difícil. Com isso, a meu modesto ver, o governo têm de se preocupar. Quando é a direita que late, parece um ônibus sem freio: faz estrago, mas muitos se salvam. Quando é o povão que vai para a rua, por sua conta e risco, assemelha-se a um trem desgovernado prestes a descarrilar que surge no horizonte. São inimagináveis as consequências.

Para o povo também é duro o golpe. Vejamos que o o partido governante, dito dos trabalhadores, resolveu sair da trincheira sob amparo de força policial. Sim, estão prendendo os trabalhadores que ousam discordar das posições governistas e fazem aquilo que tanto abominaram quando da ditadura: calam as vozes de anseio popular. Lamento, mas se a justificativa é garantir o direito de todos, como acesso à comida e combustíveis, digo que prefiro ficar com fome e andando a pé. Lutou-se tanto para alcançarmos a democracia para prendermos trabalhadores manifestantes? É... realmente é duro o golpe.

Mas, afinal, quem é o golpista?

No último texto que escrevi, fui premiado por mais um lúcido comentário do meu amigo Aristeu Nunes, pai do Rodrigão. Sugeriu ele que talvez não estivéssemos prontos para a democracia e, por consequência, à escolha do Presidente. Concordo e digo mais: creio que a classe política que hoje aí está, é que não soube se preparar, durante a ditadura, para conduzir o país em um ambiente livre e democrático. Como dita o provérbio, quem nunca comeu mel, quando come, se lambuza.

Abraço e boa semana a todos. 


PS.: Acabo de ser atordoado pela notícia do falecimento do cantor José Rico, dupla de Milionário. Uma das maiores (senão a maior) vozes da música popular brasileira. A "garganta de ouro" como muitos gostam de chamar. Grande perda para o cancioneiro brasileiro. Que descanse em  paz!