sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Porteira do Rio Grande

Creio que até já tenha passado da hora de eu fazer um texto destinado aquilo que me propus quando criei este espaço, o Blog do Campeiro. Já se passaram quase os primeiros trinta dias deste corrente ano de 2010 e até agora nada de falar de tradição gaúcha ou de música campeira. Falha lastimável, esta. Ainda que eu esteja amparado na realidade cultural desta época do ano, quando as pessoas deixam seus lares em busca dos bons ventos, sol e do mar litorâneo e, portanto, acabam por deixar de lado também os CTG's, pra uma pessoa que se diz capaz de difundir o que brota neste nosso solo sagrado esta inércia é motivo sério e amplo de vergonha. Para um garimpador de notícias no meio musical, o mínimo que eu deveria fazer era me esgueirar afim de conseguir mantê-los muito bem informados. Confesso que tenho em minhas mãos notícias quentes referente a música de nossa região, três pelo menos, porém, como ambas não estão confirmadas abstenho-me de traze-las a este espaço pelo menos por enquanto. Ainda que trazer informações quentes ao conhecimento de todos seja algo que primo, tenho compromisso com a verdade e não serei leviano trazer informações que não foram checadas com as pessoas envolvidas ou muito próximas disso. Ainda mais quando trata-se de amigos. No mais, de nada adianta trazer uma notícia quente ao conhecimento de todos vocês se a mesma não é verídica.

Dá-se início hoje, dia 29, a vigésima oitava edição do Rodeio Internacional de Vacaria, a saber, nos campos de cima da serra deste nosso estado. Cidade limite, que faz divisa com Lages já em Santa Catarina. O rodeio de Vacaria é hoje o principal do gênero aqui no Rio Grande, e não seria aumentativo de minha parte dizer que é também o maior do Brasil. Digo isso porque a Festa do peão de Barretos, em São Paulo, têm uma concepção diferenciada mais semelhante a um rodeio country norte-americano. Assim sendo, o Rodeio Internacional de Vacaria é o maior do Brasil, sem dúvida. O evento ocorre sempre de dois em dois anos, em anos pares, com começo no final do mês de janeiro estendendo-se a primeira semana do mês de fevereiro. Na programação musical deste ano, o começo é amanhã e em grande estilo. Na sede do CTG Porteira do Rio Grande um baile de gala com Porca Véia e Grupo musical Cordeona e no lonão junto ao parque de rodeio que fica à beira da BR 116 sentido Lages, baile com Os Tiranos. Os Tiranos é daqueles grupos que por onde passa deixa fãs espalhados pois trás no seu repertório a verdadeira autênticidade da nossa música regional, deixando bem claro sempre a sua origem serrana da querida São Chico. Enfim, dois baita bailes que dispensam maiores comentários. Depois, seguem bailes e shows com diversos artistas dentre os quais: Grupo Rodeio, Sinuelo Pampeando, Os Serranos, Os Monarcas, Os Mateadores, João Chagas Leite, Elton Saldanha, Luiz Marenco Cesar & Rogério e outros. Paralelo ao Rodeio, entre os dias 1º e 3 de fevereiro, ocorre a sétima edição do festival Cante uma Canção em Vacaria, festival este, que já premiou grandes artistas tais como: José Cláudio Machado e Os Serranos. Nesta edição, João Chagas Leite é um dos que concorre, para se ter uma idéia do alto nível do festival. São Chico não ficou de fora deste, sendo representado por Volnei Gomes (ex-Os Tiranos) numa parceria com Léo Ribeiro e Éder Oliveira, o Nativo (Grupo Criado em Galpão) que juntos são os responsáveis pelo chamamé Razões do Verso Campeiro. Certamente estou na torcida pelos patrícios que farão bonito por São Chico.

Enfim, dá-se início a mais uma temporada musiqueira e fandangueira na nossa região. Com fevereiro, voltam-se os tauras as suas origens e aos galpões de CTG. Começa mais um ano e com ele se renova a esperança de ver a nossa música triunfar abrindo espaço para os que chegam e garantindo a forra dos que aí estão. Amanhã o Grupo Fandangueiro entra em estúdio para fazer um ensaio daqueles pra “tirar a teia de aranha” preparando-se para a volta aos palco que deve ocorrer nos próximos dias. O ano de 2010 trará algumas novidades para os que gostam do grupo Fandangueiro. Novidades que ao meu ver colocarão o grupo num caminho bem interesante. Portanto meus amigos baileiros e apreciadores da boa música preparem-se. Dá-se início agora a mais uma maratona anual de fandangos e novos lançamentos de discos que primam sempre trazer a sensibilidade da boa máusica campeira deste nosso estado. E boa música neste nosso estado é fácil de se achar. A raíz de tudo está sempre em uma escolha certa.

_

Forte abraço e um bom final de semana a todos.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A tragédia e a esperança

Inicialmente pensei em não manifestar-me sobre tal assunto, afinal, mal começamos o ano e só falar em tragédia... Mas, e sempre tem um mas em tudo, como todos vocês já me conhecem muito bem não sou de fugir de peleia, muito menos de abaster-me de falar sobre este ou aquele assunto. Pois bem, então vamos lá. Uma tragédia, sem dúvida nenhuma, é a colocação mais correta para os acontecimentos no Haiti, o país mais pobre do ocidente. O abalo císmico de proporções catastróficas, com mais de cento e dez mil mortes já contabilizadas, além de causar pânico e transtorno na população haitiana e os demais que lá vivem, trás um sentimento de derrota para aqueles que naquele país cumpriam um trabalho de reorganização do mesmo, dando suporte para que houvesse condições mínimas para a reconstrução político-social dum país até então assolado pela corrupção e pela pobreza de seu povo. Liderados pela ONU – Organização das Nações Unidas, muitos militares brasileiros passaram pelo Haiti, em missão de força de Paz. Dos tantos que para lá foram, muitos já voltaram, outros ainda estão lá e, para nossa tristeza, alguns morreram vítimas desta tragédia ocorrida a poucos dias. O ocorrido certamente poderia dar sinas de que o trabalho desenvolvido pelo exército brasileiro foi em vão, mas se atermo-nos aos frutos colhidos anteriormente a este drástico fenômeno da natureza, atrelados a máxima de que o brasileiro “não desiste nunca”, veremos que se depender do nosso povo, o povo haitiano jamais estará sozinho nesta luta.

A proporção do problema, porém, é mais abrangente que a “simples” recontrução literal da capital Porto Príncipe. A contrução mais imponentente do país, o palácio do governo, sucumbiu em destroços em virtude do abalo, matando o presidente haitiano. Ou seja, primeiramente há a necessidade de reconstruir o ordenamento governamental no país central-americano nem que seja de forma provisória. Ainda que haja sincera boa vontade das demais nações do mundo, é preciso que todos saibam que o Haiti é um país independente e como tal, possui soberania nacional e poder para tomar as decisões em face de seu povo e dos limites do seu país. O Haiti não deve e não pode tronar-se colônia de ninguém. Feito isso, é preciso dar uma satisfação ao povo, que na eminente escasses de água e comida, tem tornado-se exemplo real da selvagem transformação humana em busca da própria sobrevivência. As imagens que de lá chegam, nos mostram que gangues milicianas se transformam em um problema sério para o país. É preciso restabelecer a ordem, contudo, fazendo com que a logística de distribuição das toneladas diárias de donativos que chegam, seja mais eficaz e desburocratizada. Ocorrendo esta harmonia de decisões, mesmo sabendo que não é um processo fácil e que na prática não é tão simples quanto parece, aí deve-se partir para reconstrução real da capital do país e dos arredores destruidos pelo tremor de terra ocorrido. Como fazer esta reconstrução? Bom, este é um processo pontual, e assim sendo, deve ser analisado quando passar a ser o objetivo principal do Haiti.

No ano de dois mil e quatro, afim de que fosse consolidado o trabalho das Forças Armadas brasileiras no Haiti, a Seleção Brasileira de Futebol foi levada ao país para um jogo amistoso contra a Seleção local. A paixão do povo haitiano pelo nosso futebol é tamanha, que o que era para ser um jogo de futebol acabou se transformando em uma grande festa com direito a desfile dos jogadores em tanques de guerra do nosso Exército pelas principais ruas de Porto Príncipe. Este evento ficou marcado na história como a Diplomacia de Chuteiras. Há pouco menos de seis anos atrás, através do futebol, o povo brasileiro deu mais uma contribuição ao povo haitiano. Não sei se este episódio irá se repetir, porém, com o resultado obtido da outra vez, é bem possível que este evento seja novamente realizado nos limites do Haiti. Parte-se agora para a tentativa de reconstruir este pobre país assolado por escombros, debaixo de ferro e concreto. A dor dos que perderam familiares e amigos neste processo é uma coisa inimaginável para qualquer um de nós. O sentimento de fraqueza e impotência que este povo da América Central deve estar sentindo também. O que é possível, é termos conciência de que o resgate desta gente passa incondicionalmente pela esperança que devemos transmitir a este povo. A esperança é que move o mundo. Agora é a hora de ajudar o povo haitiano da melhor forma possível. É preciso dar-lhes ciência de que não será fácil começar do zero e construir uma vida toda de novo. É preciso também, garantir que a esperança jamaiz, repito, jamaiz, deixe de acompanhar este povo.
_
Um abraço a todos e uma boa semana.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O centroavante da chuteira cor de rosa

Ficar todo este tempo longe do blog não é o que eu pretendia fazer neste início de novo ano, porém, as vezes a necessidade faz com que façamos coisas que inicialmente não é o que queremos. Mas isso são coisas da vida e então não podemos nos estressar com as diferenças que se surgem. Enfim, segue o baile, bola pra frente.
_
***
_
Não há profissão tão gloriosa no mundo futebolístico como a de centroavante. O centroavante não é a alma do time, não é a garra, nem mesmo a raça. O centroavante é diferente. Um centroavante é um centroavante e isso já é o que basta num time de futebol. Diria que o camisa 10 do time, o meia armador , também é importante, mas não como o centroavante.O centroavante é o responsável pela alegria do torcedor, é o homem gol, o número 9, é o cara, enfim. Um nove clássico é aquele que fica dentro da área só esperando a bola vir cruzada pelos flancos e com um testaço coloca-lá no fundo das redes, ou então, que aguarda o rebote do goleiro só pra escorar pro gol. Falar em centroavante sem lembrar de alguns mestres é impossível. Como não falar de Dario - o Dadá Maravilha, Escurinho - o rei das cabeçadas, Careca, Casagrande, Ronaldo e o maior que vi jogar: Romário, o homem dos mais de mil gols que não jogava com a nove e sim com a onze. Mas Romário podia, era o cara. Certo peixe? Um centroavante clássico é aquele que não possui vaidades, a não ser quando é pra ser fominha na hora do gol. Centroavante é um dos homens mais simples em campo, o prmeiro a entrar e o último a sair, o cara da chuteira preta. Será? Pois é, era o que eu pensava também até a rodada do gauchão da última quarta-feira.
Quando me dei por conta, percebi que que a cor da chuteira do centroavante, um negrão de dois metros de altura e cara de mau, era rosa. Nada contra a cor, muito menos a raça do jogador, mas é que naquele instante eu percebi que realmente o mundo estava mudado. Que algumas concepções deixaram de ser algo tão importante na nossa vida de hoje. Ora, um “armário” daqueles calçando um par de chuteiras cor de rosa acaba virando motivo de chacota. Ou não? Nesta altura do campeonato, já não sei mais nada. Como exigir que a dupla de zaga respeite um jogador, um centroavante, pasmem, que usa uma chuteira cor de rosa? Não meus senhores, não há no mundo argumento capaz de convencer dois beques a utilizar do artifício “respeito” para com um centroavante que calça uma chuteira cor daquela. O zagueiro é a garra do time, o pegador de joanetes alheias. Dizem que o sonho de todo zagueiro é usar botinas ao invés de chuteiras, mas, como não é possível, contentan-se em utilizar chuteiras exclusivas com travas de ferro fundido. Zagueiro não tem cara de mau, zagueiro é mau. Mas um zagueiro mau sabe respeitar um centroavante com cara de mau, daqueles matadores que usam chuteiras clássicas. Um xerife de zaga não pode respeitar um centroavante que utiliza chuteira cor de rosa. Eu não respeitaria, sentava a pua isso sim. Um zagueiro que honra o numero três em suas costas defende sua honra até o fim. Defende a honra dos verdadeiros centroavantes também, como a do seu companheiro de time, por exemplo.
Assim como no futebol centroavante não pode usar chuteira cor de rosa, na música autêntica deste Rio Grande um gaiteiro não troca a gaita por nada neste mundo, nem mesmo por mulher. Com todo respeito as mulheres, mas a quem o Patrão Velho deu o dom de ser gaiteiro mulher nenhuma tem o direito de meter o bedelho. Eu já perdi músico para mulher e gaiteiro para a igreja. Não desconfiam ambas, a mulher e a igreja, que uma pessoas quando tem a música em sua alma terás a mesma para sempre. Mulher alguma pode contar vitória frente a música, porque a música não abandona o músico jamais. Todos podem conviver em harmonia certamente, não há necessidade de separação sem dúvida. Diz um ditado gaúcho que ovelha não é pra mato. Ouso dizer, baseando-me nesta linha, que gaiteiro bom não foi criado para viver longe do palco e que centroavante com chuteira cor de rosa não tem cacife para pisar num campo de futebol. Como se sabe, agua e azeite não se misturam, e isso, isso sim é fato comprovado.
_
Abraço a todos e um bom final de semana.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Da ação a ser tomada

Quando as coisas teimam em bater a nossa porta, é porque há algum fundamento mais objetiva em tal visita. Quando as situações se repetem de forma mais intensa e matreira é porque algum ensinamento devemos tirar de tudo isso. A época era final do ano de dois mil e oito, início de dois mil e nove. Utilizo-me deste espaço para fazer quase que um apelo a todos vocês leitores deste blog, na esperança que minhas linhas traçadas ganhem a imensidão e sirvam para que alguma coisa mude. A mais ou menos um ano, ou um pouco mais, tratei aqui do absurdo natural que estava assolando nosso patrícios lindeiros, o povo do estado de Santa Catarina. Chuvas torrenciais, cidades embaixo d'água. Morros vindo abaixo, casas soterradas. Vítimas fatais. Recordo-me que no ato eu pedi para que todos nós puséssemos nossa consciência em funcionamento passando a dar um pouco mais de atenção para a mensagem que a natureza estava querendo nos passar. Passaram-se os meses, o povo catarinense ainda reconstrói suas casas e sua vida, contudo, a natureza ainda tenta nos avisar que ela precisa de socorro. Os acontecimentos agora também são no Rio Grande. Cidades alagadas, destruídas pela fúria dos ventos. Pontes vindo abaixo sob a força da água. Vidas que se perdem. Até quando? Até quando? Questionamento repetido, mas que, ainda assim, não tem resposta. Se não se sabe o porque começou, deve-se ter uma idéia, afinal, se só tiramos é evidente que o vazio se prospera e depois fica muito mais difícil de se repor.
No dito texto mencionado, não ausentei os nosso amigos catarinenses da culpa. Isso porque, o ímpeto comercial imobiliário o transformou em personagens sedentos pelos frutos financeiros originantes, de tal forma que, na falta de espaço para o crescimento, começou-se a invadir as encostas dos morros transformando o que antes era mato em lotes e terrenos, por fim, casas. Na maioria dos casos, belas casas por sinal. O resultado disto também atende pelo nome de desgraça. Mas este problema não é exclusivo do estado de Santa Catarina, e a realidade está aí nos mostrando isso. Na virado do ano, começo deste corrente, vimos um tremendo e triste soterramento de uma pousada no litoral fluminense, mais precisamente na cidade de Angra dos Reis. Como nunca tive o privilégio de conhecer tal cidade, não posso dizer que a própria construção contribuiu para o desfiguramento do morro de tal forma que o mesmo parcialmente tenha desmanchado-se frente a adversidade do clima. O que há de ser dito, porém, é que independente ou não da “responsabilidade” da construção da pousada frente ao acontecimento, vidas se perderam e isso é o que tem que ser levado em consideração. Até quando o nosso poder público vai continuar sendo omisso, não fiscalizando e proibindo este tipo de construção em encostas? Sei que talvez a realidade do nosso país acabe transformando isso num problema social em virtude do déficit habitacional declarado que possuímos, no entanto, alguma medida tem que ser tomada. É inadmissível ter que aceitar o choro do rapaz lamentando a perda de sua mulher. Recém casados e em lua de mel. Este choro não dever ser taxado por pena e sim por ação. E é o agir que se espera neste momento.
Pra completar o texto desta semana, uma vez que em virtude de compromissos profissionais não poderei escrever nesta sexta-feira, reforço o apelo que fiz nas linhas anteriores deste sob a necessidade de termos consciência que a natureza e de todos nós, e assim sendo, há uma necessidade ainda maior de exercermos um papel de zelo perante ela. A realidade tem nos mostrado que as bruscas mudanças climáticas que vêm nos assolando nos últimos tempos se devem muito a omissão e ao desdém de cada um de nós. Não é hora de dizer que a maior culpa é do fulano ou sicrano, é hora de dizer o que eu, você, enfim, nós, faremos para tentar reverter a bancarrota natural que nos aflige. Demagógico e utópico este meu pensar? Não. Nada em nossa vida, repito, nada em nossa vida vem de mão beijada. As nossas vitórias geralmente vêm a base de muito esforço e suor e, inevitavelmente, partem dum primeiro passo. É chegada a hora da conscientização mútua da necessidade do primeiro passo. Afinal, não tem outro jeito!
_
Forte abraço e uma boa semana a todos.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Vende-se tudo

Não é muito do meu feitio ficar transcrevendo texto de outras pessoas aqui no blog. Aliás, não gosto de fazer isso nem com os meus textos. No entanto, recebi um e-mail esta semana muito interessante, acerca de um relato da brilhante escritora Martha Medeiros. Transcrevo-o, portanto, torcendo para que a escritora não reclame direitos autorais (hehehehe):
_
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos EstadosUnidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou: - Que coisa triste ter que vender tudo que se tem. - Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto.. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma.
No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros..
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.
Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida...
Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.
... só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir.
_
O relato de Martha Medeiros, creio eu, que deve servir como ponto de reflexão para todos nós. O apego material não nos trás vantagem alguma, bem pelo contrário, nos transforma em pessoas egoístas, possessivas e muitas vezes incrédulas. Se ser simples é o que realmente importa na vida, tratar de viver desta forma é algo profundamente importante e necessário para purificação de nossas almas. Que nosso apego seja pelas pessoas que a gente ama e jamais pelo aquilo que representa algum poder ou status. Como sempre digo, ser simples é o que basta.
_
Abraço e um bom final de semana.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Estado de Férias

Eu quase que comecei este texto de hoje, o primeiro do corrente ano de dois mil e dez, dizendo que as pessoas ficam mais lentas nesta época do ano. Ocorre, contudo, que na verdade a cidade está mais parada em virtude do seu breve esvaziamento devido a temporada de férias de verão. Certamente o inverso deve estar ocorrendo nos municípios litorâneos neste exato momento. Ainda que eu tenha me criado nos campos de cima da serra, mais precisamente em São Francisco de Paula, uma cidade considerada calma e tranqüila, mudei-me ainda criança para Novo Hamburgo e acabei me acostumando com a rotina mais agitada duma cidade considerada, até certo ponto, grande. Ouso dizer que hoje eu não saberia mais viver em uma cidade muito calma, ainda que sonhando em voltar um dia pra São Chico. Talvez este “um dia”, demore um pouco mais do que eu esperava e esteja relacionado a uma série de circunstâncias as quais não vem ao caso neste momento. O que eu não seria hipócrita de dizer, no entanto, é que eu sou um aficcionado pela correria diária de uma cidade grande. Se acostumar é muito diferente de gostar. De algum modo, tento manter ambos os casos em perfeita harmonia e acho que tem dado certo. Mas enfim, vamos ao assunto do texto de hoje, que é claro, está relacionado ao que falei nesta parte introdutória.
Por dois bons anos eu vivi em nossa capital, a saber Porto Alegre (hehehe). Confesso que no início temia viver em uma cidade que eu não consegui atravessar a extensão territorial a pé. Na prática, porém, acabei me acostumando e passei a gostar de Porto Alegre. Aliás, a grande maioria das pessoas que deixa sua terra natal em direção a capital e fixa residência nesta, acaba por se acostumar com sua rotina e inevitavelmente a gostar da cidade. Comigo assim aconteceu. Falo de Porto Alegre, porque esta é o principal exemplo de esvaziamento durante este período litorâneo. Lembro-me muito bem da facilidade que transformou-se guiar um carro em pleno janeiro na capital. Do quão melhor ficou enfrentar a rótula da Plínio com Carlos Gomes, descendo a Vinte e quatro entrando na Goete e por fim na Ipiranga. Enfim, passei a levar metade do tempo para chegar em casa. Ao lembrar-me dessa situação toda, acabo por trazer a tona em minha mente, retransmitindo a todos vocês caros leitores e leitoras, essa máxima popular de que no Brasil o ano começa mesmo depois do carnaval, a saber este ano no dia dezesseis de fevereiro. Afinal, o ano já começou ou começará apenas no dia dezessete de fevereiro? Vale lembrar que logo depois já temos a páscoa e que este ano ainda temos Copa do Mundo de Futebol e Eleições para definirmos nossos novos governantes em âmbito federal e estadual, bem como nosso representantes no parlamento. Juro a vocês que já ouvi no rádio hoje alguém dizendo que este ano nem começará. Outros dizem que na Bahia nenhum ano termina porque nem começa. Hehehe. Mas que barbaridade! Pobre dos baianos...
O que me resta, por fim, é tentar neste prenúncio delineativo final, tratar de por em prática uma opinião plausível sobre esta questão toda. Nos tempos de outrora, trabalhadores das mais diversas classes quando estavam sob eminência de greve declaravam Estado de Greve. Na prática era uma greve maquiada em forma de aviso. Diria então que estamos em Estado de Férias. Nem todos estão sujeitos aos “benefícios” diretos dela, mas indiretamente são agraciados com as “benfeitorias” que lhe são apresentadas. Como no Estado de Greve, no Estado de Férias ainda há uma possibilidade de reversão fazendo de certa forma tudo voltar como era antes. Nesta época do ano o movimento de carros nas ruas das cidades diminui, o movimento de pessoas diminui e a paz parece que melhor flui. Possibilidade de reversão? Não contem comigo para este feito, afinal, time que está ganhando não se mexe. Time que está ganhando deve continuar ganhando. E sem essa de voltar como era antes. Que o litoral de um jeito de acomodar todo mundo (hehehe)...
_
Abraço e um bom começo de ano a todos.