segunda-feira, 30 de março de 2009

Começar de novo

Todo início de semana tem algum assunto sendo discutido na nossa imprensa. Pode ser até meio banal este assunto, mas está sendo discutido, afinal, alguma coisa eles tem que fazer não é verdade? Explorar a notícia até ela se esgotar é o que tem feito nossos repórteres, comentaristas e apresentadores, principalmente no rádio. A notícia do momento, que esta gerando polêmica, é a idéia do governo do estado de terceirizar os serviços de administração das penitenciarias gaúchas. Segundo o mesmo, o ônus dos presídios é muito grande e o estado não tem condições de arcar com os mesmos, nem com manutenção e nem com construção de novos estabelecimentos do gênero. Confesso a todos que não tenho uma opinião formada a respeito, pois vejo com ressalvas toda ou qualquer terceirização de serviço público. Lamento contudo, que o motivo que gera tal discussão não seja a construção de novas escolas, ou contratação de novos professores. Pelo que se vê, construir e discutir sobre presídios é mais importante que investir em educação.
Todos podem ver que eu realmente tenho batido muito na questão da educação nos últimos tempos. Sou neto de professora, e filho de ex-professora (desanimada e desestimulada, minha mãe deixou de dar aula há cerca de quinze anos) e tenho extrema simpatia pelo magistério. Gosto muito de História, e ainda pretendo um dia cursar e poder dar aula da mesma. No entanto, os últimos acontecimentos têm deixado não só eu, mas todos preocupados. Há uma imensa falta de segurança nos pátios escolares, já não se pode mais ter a confiança de outrora, quando os pais sabiam que na escola os seus filhos estariam protegidos. Nos nossos dias, parte-se do pressuposto que a escola não é mais um estabelecimento formador de cidadãos e sim de gangues de delinqüentes. Não podemos generalizar, é claro, a sim as gratas exceções, porém não mais tão freqüentes.
O poder público, a mídia e a população em geral, de tão acostumados com o descaso com a educação deste país como um todo, acaba esquecendo destes questionamentos: É mais importante uma nova escola ou uma nova penitenciária? O presídio é realmente um local de ressocialização de criminosos? Pelo que se por aí, respondendo a segunda pergunta, o que se vê é o surgimento de bandidos mais fortes dentro da cadeia. Por que não se discute o retorno das escolas de tempo integral, tão defendidas por Leonel de Moura Brizola? Por que não se discute novos paradigmas para o programa PROUNI, permitindo que todos possam ser beneficiados com o mesmo? Por que não se discute o retorno do antigo Crédito Educativo, que permitia a todos o acesso a uma universidade? Essas e outras questões é que deveriam estar no foco das mesas de debate e na pauta das reportagens da nossa imprensa. Construir novos presídios? Terceirizar os já existentes? Uma discussão social pertinente sim, admito, mas no fim, qualquer que for a decisão, o ônus acarretará no contribuinte mesmo. Sendo assim, que pelo menos usem o nosso dinheiro para que o retorno seja diretamente para nós.
Estes dias li um texto dum economista querendo que fosse gerado um Novo Estado, capaz este, de regular de forma imparcial e dinâmica as situações de mercado. Acho que no nosso caso, não seria só uma questão de refundar o estado, mas sim reaprender o conceito de valor. Valor moral, valor ético, valor cívico e tantos outros. Precisamos começar de novo no quesito respeito ao próximo, na convivência harmônica em sociedade, na verdadeira percepção de realidade. E a realidade nos mostra que investir em bandido não é a melhor forma de fazer um novo começo.

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Abraço e boa semana.

sexta-feira, 27 de março de 2009

O dia de Porto Alegre

No dia em que saí de casa, começando ali uma nova fase da minha vida, confesso a todos vocês que senti medo. Estava deixando o aconchego do lar familiar e assumindo uma posição de independência na minha vida. Não sabia se eu me adaptaria, como iria ocorrer isso este processo todo, além de tantos outros questionamentos que rondavam a minha cabeça. No dia onze de abril de 2006 eu mudei-me para a capital do nosso estado, Porto Alegre, devido a compromissos profissionais. Para quem vê de fora, uma cidade caótica, violenta, suja, desarrumada...Para quem vê de dentro, uma cidade aconchegante, com muitas histórias pra contar e indiscutivelmente única. Minha paixão por Porto Alegre começou naquele instante e desde então, nutro uma profunda admiração pela cidade. Só mesmo São Chico que ganha de Porto Alegre. Por força do destino, no final do ano de 2007 acabei retornando para casa, contudo, a vontade do voltar a morar na capital persiste dentro de mim e não hesitarei em retornar quando houver oportunidade.
Na manhã de hoje, lembrei-me do meu percurso diário, minha rotina de ida para o trabalho. Deixava o apartamento que morava na rua Getulio Vargas, no coração do bairro Menino Deus e seguia rumo a zona norte. Cruzava toda a extensão da Venâncio e vinte minutos depois estava no Hospital de Pronto Socorro, aguardando a linha 431 na parada de ônibus. Subia a Protásio, entrava na Carlos Gomes e descia na esquina com a Plínio. Atravessava em diagonal e chegava à Inspetoria de Porto Alegre para trabalhar. Que falta sinto do meu grande amigo Renatinho, das idéias do Amauri, das rabugices do Seu Gorga, das histórias do companheiro Tosi Filho, da brabeza da Carol e das loucuras da Rejane. Depois ainda surgiu a Fernandinha, muito querida. Enfim, sinto saudade dum tempo em que eu realmente era feliz e não sabia. Na volta pra casa, o caminho era similar. Dividia moradia com um grande amigo, meu irmão Duda. Sinto falta das nossas conversas que varavam a madrugada.
As quartas-feiras destinadas ao meu colorado no gigante, as rápidas passadas pela redenção e pelo parcão quando voltava de carona com o Renato. As idas ao Zaffari para comprar o lanche para o pessoal da inspetoria. As gravações na casa do Cesar e da Carlinha (um fraterno abraço pra este casal de amigos, únicos), subir a Dr. Flores quase duas horas da manhã em virtude disso. As andanças corridas pelo centro, os dias trabalhados na SMOV, local que de quintal do satanás virou um paraíso. As caminhadas pelo Menino Deus e as péssimas recordações das viagens de trensurb. Tudo isso paira na minha cabeça e me faz sentir saudade dum tempo que nem é tão distante, mas que me marcou de forma profunda para o resto da vida. Sentimentos que Porto Alegre transmite a todos que lá moram e a todos que a conhecem de verdade. Uma cidade que a cada dia se rejuvenesce, mesmo tendo duzentos e trinta e sete anos. Mais de dois século completados na data de ontem.
Vinte e seis de março, o dia de Porto Alegre. Feliz aniversário.

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No último sábado, vinte e um de março, um dos maiores intérpretes da nossa música estaria completando sessenta anos de idade: César Escouto, o César Passarinho. Uma figura ímpar, singular do nosso tradicionalismo e admirado por todos que puderam o conhecer pessoalmente. Pra quem não sabe, César Passarinho teve origem na música popular, no carnaval e no rock, contudo foi no gauchismo que ele se encontrou. Tanto que sua figura ficou imortalizada de bota, bombacha, lenço no pescoço e sua boina branca. Tive o privilégio de vê-lo de perto, participando de dois Ronco do Bugio, e deu para perceber que ele tinha o carinho e admiração de todos que estavam a sua volta. Nascido em Uruguaiana, morreu em Caxias do Sul (onde residia) no dia quatorze de maio de 1998. Uma perda lastimada, deste que fora sem dúvida, o último cantor romântico da nossa autêntica música gaúcha.
Como intérprete, ganhou duas vezes a Califórnia da Canção Nativa na sua terra natal, com as músicas: Negro da Gaita (1977) e o grande sucesso Guri (1983). Na sua voz ainda imortalizou musicas como: Arranchado, Cambichos, Mocito, Os Cardeais, Romanceiro da Erva Mate, Ultimo Grito, Um Pito e mais...

“César Passarinho abriu as asas poderosas e alçou o último vôo, mas sua imagem paira sobre nós até hoje como uma sombra benfareja.” Antonio Augusto Fangundes

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Fiquei realmente lisonjeado com o comentário feito neste blog pelo poeta, compositor, tradicionalista e patrício de São Chico, Léo Ribeiro. Uma figura impar dentro do nosso gauchismo, pois defende com precisão as coisas do Rio Grande através das suas palavras, sendo com poesia ou com letra de música. Admiro seu trabalho, não só na parceria com Os Tiranos, mas também com Gonzaga dos Reis, Zezinho, Rodrigo Lucena e outros. Destaque também para composições gravadas por Os Monarcas, tais como: Quem é da lida, Amor Campeiro e, do último disco, Aos Gaúchos do Amanhã. Sempre que estou por São Chico, também acompanho sua coluna no jornal Imprensa Popular.
Muito obrigado pelas palavras Léo. Certamente elas me dão ainda mais força para seguir firme nos cascos, defendendo o gauchismo e a música autêntica da nossa terra.


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Mantenha contato com este blog através do e-mail: bruno_campeiro@hotmail.com
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Forte abraço e um bom final de semana a todos.

terça-feira, 24 de março de 2009

Revolução

Sim eu sei, deveria ter postado um texto ontem e não o fiz. Não há uma obrigação real, mas sim moral frente a isso. Tive os meus motivos, não vale a pena trazer a tona os mesmos e segue o baile gauchada. Como de costume, gosto de me envolver em polêmica. Não pelo desejo de chamar a atenção, mas sim por ter opinião formada sobre a maioria das derrocadas sociais que afligem o nosso povo no dia-a-dia. Ontem aconteceu mais um destes exemplos: uma professora fora agredida por uma aluna, em Porto Alegre, dentro das dependências da escola. Sofreu a educadora traumatismo craniano frente a violência aplicada pela tal aluna, está hospitalizada e segundo entrevista a um periódico da capital, não mais voltará a lecionar no estabelecimento, palco do ato de selvageria. O mesmo veículo de comunicação questionou a agressora, que afirmou não estar arrependida em virtude das ofensas morais que diz ter recebido. Ora, não entrarei no mérito, contudo, creio que por pior que fossem as palavras o ato não se justifica. O respeito na relação professor aluno é imprescindível acima de tudo.
Por coincidência, obra do destino, ou qualquer outra descrição a cargo da inteligência de vocês, caros leitores, parece que há um caso semelhante ocorrendo em uma novela da Rede Globo de Televisão, faixa das vinte e uma horas. Digo parece, porque não acompanho novelas e seria leviano da minha parte querer opinar sobre tal fato. Contudo, antes de começar a escrita deste texto, tratei de me informar sobre a tal novela. No folhetim entitulado “Caminho das Índias” (será que Pedro Álvares Cabral participa?), há um grupo de jovens comandados por um tal de Zeca, bando de arruaceiros que não possui um mínimo de pudor e agride dentre tantas pessoas, os professores da escola em que estudam. O baderneiro chefe do bando, tem respaldo familiar para cometer os seus delitos, principalmente do seu pai (que parece ser um conceituado advogado) contemporizador das barbaridades cometidas pelo indivíduo. Vejam bem caros amigos, o quão enriquecedor da cultura do povo brasileiro são as novelas. As pessoas tem o privilégio de ter no Brasil a maior indústria noveleira do mundo. Aliás, nem sei como o nosso país ainda é considerado um estado de terceiro mundo.
Alguém por acaso discorda da minha modesta opinião, de que certamente esta aluna da nossa capital foi acossada pelo sentimento de que passaria impune a agressão que fizeste para a sua professora? Acho que não né? Tenho certeza que não! O fato é que estas novelas infelizmente distorcem a realidade que vive o povo brasileiro. Os pobres nem são tão pobres, tudo é motivo para festa e os problemas se resolvem em um piscar de olhos. Aí alguém vai gritar que a novela pode ser considerada uma obra ficcional. Concordo. Porém, num país como o nosso, onde o povo utiliza-se (para nossa bancarrota) da televisão como maior instrumento de lazer, educação e cultura, deveria haver uma maior preocupação, por parte dos autores de novelas, frente ao conteúdo exposto e a forma como este é mostrado. Eu sei diferenciar o certo do errado, vocês leitores também, mas nem todos tiveram oportunidades na vida e tem a habilidade que nós temos. Quando que o interesse vai deixar de ser apenas comercial e financeiro? Eu mesmo respondo: nunca!
É chegada a hora da revolução cultural deste país. Onde o livro se torna a principal fonte de riqueza intelectual, onde o professor seja a classe mais bem remunerada do país, onde o aluno utilize-se da escola apenas para aprimoramento da sua inteligência e não delinqüência. É chegada a hora de lembrarmo-nos da onde viemos e sabermos para onde vamos, e que certamente não será a televisão que nos mostrará o caminho.

Abraço e uma boa semana a todos.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Trote manso

As vezes os assuntos são tantos que é difícil saber o que falar. Outras tantas, a pobreza informativa é tamanha que escrever uma linha parece coisa de outro mundo. Como não sou assustado, vou levando a coisa toda de forma que eu consiga me judiar o mínimo possível, afinal, estamos aí para serviços leves, extremamente leves. Ainda mais numa sexta-feira né? Água de melissa e suco de maracujá nunca fazem mal a ninguém. Pois bem, vamos ao que interessa: a pauta de hoje. Bem... E se eu disser que não tenho pauta? Que não tenho assunto nenhum? Que a minha inspiração tirou folga? (hehehe). Que barbaridade! Resolvemos o assunto logo, afinal escrever para pessoas inteligentes, cultas e amigas, assim como são vocês que lêem este amontoado de palavras que aqui escrevo é fácil. Basta apenas um pouquinho de concentração que a coisa anda e toma jeito.
Falando em tomar jeito, as promoções dos CTG’s da região estão pegando preço. Para se ter uma idéia, nos galpões de Campo Bom e Novo Hamburgo, todas as entidades já fizeram ou estão fazendo neste mês algum fandango. Isso demonstra que as patronagens estão dispostas a fazer a coisa funcionar. A máquina não pode parar, senão, acaba parando, enferruja e não funciona mais. Os festivais também parecem voltar com força neste nosso cenário gaúcho. Até o Ronco do Bugio que nos últimos anos andou cambaleando, tem data definida na programação anual de eventos, na bela São Francisco de Paula. Aliás, falando nisso, muito bonito o calendário de eventos organizado pela Prefeitura Municipal. Isso mostra que a atual administração está focando o turismo como medida essencial para o desenvolvimento do município, uma vez que, ao meu ver, há muito tempo a agricultura, a pecuária e a extração de madeira deixaram de sustentar este oásis dos campos de cima da serra. É preciso pegar carona no modelo implantado em Gramado, principalmente, para que se possa andar pra frente neste aspecto.
Falando em São Chico, no último domingo estive prestigiando lá, o lançamento do primeiro cd de Jardel Borba e Grupo Brasil de Bombacha. O Jardel pra quem não sabe, é um jovem gaiteiro de apenas 14 anos (se não me engano) que está despontando aí no cenário musical gaúcho. O guri tem talento e certamente será num futuro próximo um dos grandes expoentes da nossa gaita gaúcha. Canta no grupo o meu amigo Rodrigo Santos, filho do grande gaiteiro tocador de bugios, Gonzaga dos Reis. Gonzaga que também esta com um disco novo na praça. Destaque para as composições em parceria com meu grande amigo e irmão, Adriano Claro. Falando neste gênio das cordas, ele está no projeto do novo grupo que está surgindo no nosso cenário musical: Coração Gaúcho. Falarei em breve sobre isso.
Acho que pra uma sexta-feira está a contento o texto gauchada. Num dia como hoje a coisa tem que andar num trotezito manso, porque a galope vira uma judiaria desgraçada. Nunca podemos esquecer que daqui a três dias já é segunda-feira. E segunda-feira é um dia que poderia ser riscado do calendário. Sem dó, nem piedade.


Abraço e bom final de semana.
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Que dá um frio na barriga isso dá. Se alguém fala que não sente nada, certamente esta mentindo. Calma gente amiga, ainda não enlouqueci (hehehe). Estou falando de subir no palco, cantar, tocar. A cada novo baile, dá um frio na barriga sempre que se sobe ao palco. Sempre. Principalmente pra quem canta a primeira música, no caso do novo repertório do GRUPO FANDANGUEIRO, eu mesmo. Choveu, ventou e sobrou pra mim. Mas não dá nada, o Rio Grande é grande. O importante é que hoje recomeçam os fandangos para o GRUPO FANDANGUEIRO. Espero este dia há três longos meses. O último baile que tocamos foi no fatídico dia dezenove do mês de dezembro do ano passado. Desde então, muito ensaio. O resultado de tanto ensaio pode ser visto hoje à noite, numa bailanta flor de macanuda:
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BAILANTA CTG M'BORORÉ - CAMPO BOM/RS
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DIA: 20/03/2009 (SEXTA-FEIRA)
HORA: 20: 30HS
INFORMAÇÕES: 51 9334-6253 (C/ WILLIAM)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ponto de vista

Esta não será a primeira vez que eu utilizo-me deste espaço para falar do clima. Aliás, eu acho que este tema é o segundo mais falado aqui, depois do gauchismo é claro. Acontece que ontem a temperatura baixou pela primeira vez este ano. Nesta madrugada tivemos um sinal de que o inverno poderá chegar mais cedo este ano e quem sabe, vir com mais força que o ano passado. Nos últimos tempos, muitos fenômenos estão transformando o clima em algo incompreensível, no verão faz frio, no inverno faz calor e o outono e a primavera já não possuem mais características próprias. O pior de tudo, é que o principal culpado de tudo isso é o homem, uma criatura que dizem ser racional, que pensa e tem noção dos seus atos, mas que a cada dia que passa acaba mostrando o contrário: um ser irracional, que não pensa e não tem noção dos seus atos.
Acompanhei ontem uma reportagem televisiva que mostrava as Ilhas Malvinas, no continente asiático, um país que está condenado ao desaparecimento. O degelo das calotas polares, devido ao superaquecimento do nosso planeta fará com que o nível do mar suba de uma forma a encobrir este pequeno arquipélago da Ásia. Para se ter uma idéia, na média, a faixa de terra das Ilhas Malvinas não é superior a 1,20m acima do nível do mar. Algumas ilhas estão sofrendo processo de adaptação, passando a ter cerca de 2,50m acima do nível. Este processo de adaptação, contudo, é muito caro e não poderá ser feito em todo país. O atual presidente cogita comprar terras em outros países para poder re-alocar a população de modo que estes não fiquem a deriva em alto mar. E pensar que por muito menos nós somos capazes de fazer um estardalhaço. O certo é que se não nos conscientizarmos de que o perigo está rondando a nossa porta, muito em breve nem o nosso litoral brasileiro estará salvo, além de outras tantas situações a qual estaremos cometidos.
Mas voltando ao nosso invernico de março, eu sou um pouco suspeito pra falar, uma vez que sou um defensor do frio. Contudo, já não mais como outrora. Confesso que este ano, pelo menos este, eu e o calor intenso tivemos uma relação de tolerância uma vez que, nem ele foi ávido em demasia nem eu fui um crítico ferrenho em abundância. O certo é que, quando uma situação qualquer não toma o rumo do absurdo e do exagero, todos nós temos dentro do nosso inconsciente um nível de tolerância passivo, por mais irritante que seja o caso, a gente sempre pensa que poderia ser pior. Isso é bom ou ruim, dependendo certamente do ponto de vista de cada um. Aliás, tudo é uma questão de ponto de vista na nossa vida. Eu posso discordar de qualquer coisa que se torna presente a minha frente, as vezes, sem motivo nenhum aparente, afinal, discordar de qualquer coisa, mesmo sabendo que isso possa estar correto, pode ser apenas um caso de ponto de vista. Só ponto de vista.


Abraço e uma boa semana a todos.
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Agenda do GRUPO FANDANGUEIRO:
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BAILANTA CTG M'BORORÉ - CAMPO BOM/RS
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DIA: 20/03/2009 (SEXTA-FEIRA)
HORA: 20HS

sexta-feira, 13 de março de 2009

Entre a razão e o coração

As pessoas tem o defeito de se apegar as coisas. Coisas neste caso, pessoas e objetos. Também não sei se isso é um defeito, mas certamente também não é uma qualidade. Agimos pelo impulso, por paixão compulsória, pelo desejo de ser e poder. Agimos por tantas coisas, afinal a vida é assim. Quando a gente ama, aí é que a bobeira toma conta, nada serve para contentar a pessoa amada. Esquecemos que, se de fato a outra parte possui o mesmo sentimento, qualquer coisa que façamos será o suficiente para deixa-la feliz, extremamente feliz por vezes. No entanto, num belo dia a ficha cai e nos enxergamos o quanto colocamos os pés pelas mãos, todo dia, todo tempo. Começa então uma busca desenfreada por um rumo, pelo verdadeiro sentido da vida e pela busca da felicidade. Será que o faço está certo? Eu sou feliz? Eu faço a outra pessoa feliz? Questionamento nos surgem diariamente tal como a necessidade de beber água para nossa sobrevivência: intermitente.
No mês de novembro do ano de dois mil e seis eu comprei o meu primeiro automóvel. Quatro meses antes começara a minha busca desenfreada para suprir o meu maior desejo desde os catorze anos: ter um carro. Muitos negócios começados e desfeitos, outros tantos nem começados. Até que no penúltimo mês daquele ano eu fechei negócio e comprei um Fusca “Itamar” ano 1995. Uma preciosidade, inteirinho, prata metálico, motor mil e seiscentos. Uma jóia rara de se ver. Confesso que no início das negociações meu pai era mais empolgado que eu. Aos poucos eu fui me familiarizando com a idéia, e nos momentos finais da negociação eu já estava numa afobação plena. Lembro como se fosse hoje o dia que saí dirigindo ele da loja (aliás, a primeira vez que o dirigi, pois só meu pai o tinha testado), manobrei-o e saí em direção a um posto de gasolina, após levei-o até a oficina para os primeiros atendimentos básicos (troca de óleo, pastilhas e fluído de freio, enfim, simploriedades). Era uma sexta-feira, semelhante a esta. Naquele dia só não tinha tantas nuvens.
A partir daquele momento, começou o meu apego ao carro. Cuidava-o, lavava-o, mimava-o. Deus me livre ter que coloca-lo em estrada de chão batido. Eu quase tinha um treco (hehehe). Com ele, fiz inúmeras viagens a São Chico e fui até pra Garopaba em Santa Catarina. E o Fuscão se comportou como um gigante em plena BR 101, um caos diariamente e transtornada pelas obras de duplicação. Enfim, não vou mentir: me apaixonei pelo carro. Corre o tempo. O mês é agosto de dois mil e oito. Pressionado pelo meu pai, tive que optar em continuar com o Fusca ou ficar com o carro dele que eu já tinha “comprado” de boca. Num breve pensamento, colocando no papel os pros e contras, resolvi ficar com o carro do meu pai. Levei o Fusca pra São Chico e coloquei numa garagem. Me enrolei até outubro pra leva-lo a uma revenda. Eu não queria vender. Infinitamente não queria. Queria deixa-lo na garagem, dar umas voltas de vez em quando, mas a situação não permitia isso. Depois disso, o dirigi somente mais uma vez.
O ano agora é dois mil e nove. Este corrente. O dia, treze de janeiro. Recebo uma ligação por volta das onze horas da manhã. Uma proposta oficial e definitiva pelo meu Fusca “Itamar” 1995, preciosidade, inteirinho, prata metálico, motor mil e seiscentos. Vendi. Nem tive tempo de me despedir, de me desculpar por estar fazendo aquilo. A única imposição que fiz foi no preço. Quem comprou certamente o cuidará por isso. Ele esta lá em São Chico, o vi duas vezes depois disso, mas não tenho coragem de chegar perto. Não mesmo.
Fiquei entre a razão e o coração, optando pela primeira. A vida é uma opção. Razão ou coração, certo ou errado. Há o meio termo, junção de ambos, contudo, raramente isso funciona. Não me arrependo da minha decisão, por mais saudade que eu sinta. A saber, eu dava qualquer coisa pra poder dar uma ultima volta no meu Fusca. Meu sim, sempre será. Pelo menos nas minhas lembranças. Sigo meu caminho, tomei a decisão correta. Coube a mim aceitar vende-lo. Cabe a mim viver e ser feliz. Só a mim e ninguém mais.
_Abraço em um bom final de semana a todos.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Ossos do ofício

Quando o meu celular tocou na sexta feira, por volta de uma hora da tarde, do outro lado da linha estava o Mauro, meu colega de Grupo Fandangueiro, convidando-me para um aniversário de um amigo dele e ele já tinha tratado uma participação especial da nossa banda na festa. Confesso a todos vocês que não gosto muito de participar deste tipo de evento. Não me preocupo em enriquecer tocando, mas também não to morrendo de fome para tocar apenas pela janta. Por mais que eu tenha outras atividades, sou muito profissional no que faço, e eventos deste tipo fogem muito às regras estabelecidas pela sociedade tradicionalista. No entanto, uma vez que o meu outro colega de grupo e também vocalista, o Lauri, não podia ir por motivos de caráter pessoal, restava apenas eu pra segurar as pontas. Aí entrei num caminho diferente: foi mais forte o sentimento de lealdade e amizade para com os demais companheiros de grupo, do que minha convicção frente ao tipo de evento.
Ao chegar no local da festa, em Novo Hamburgo, encontrei todos os meus patrícios no lado de fora do recinto. Inicialmente, mantive-me sob o luar de sábado desfrutando da escassa brisa que pairava sobre o local, discutindo algumas coisas com o pessoal. Aí resolvi dar uma olhada para dentro do ambiente para ver como estava a festa. A porta ficava de frente para o palco e eu estranhei em ver em cima do mesmo um excesso de instrumentos de percussão, uma vez que nós não possuímos percussão além da bateria. Aí veio a notícias que me deixou sem chão: o filho do aniversariante tinha uma banda de pagode e esta iria fazer um show antes de nós nos apresentarmos. Na mesma hora algo muito parecido com o sentimento da raiva surgiu em mim me esquentando o sangue. Tive que ser contido já quase dentro do carro. Quando eu soube daquela situação toda, na hora estava disposto a ir embora. Nada contra aos meninos pagodeiros, mas ao fato de não termos hora certa pra tocar. Ta bom, admito que detesto pagode, mas este não era o fato preponderante da noite.
Passado a raiva instantânea, procurei ver o lado bom da coisa. Infelizmente não achei lado bom nenhum, mas permaneci por lá, afinal, já estava lá mesmo. Momentos depois apareceu no evento o Airton, meu companheiro de grupo Alma de Campo e que foi um dos fundadores do grupo Fandangueiro. Também não me surpreendi com sua presença lá, afinal, tendo churrasco na região ele está sempre presente. Surpreso ficou ele de me ver no evento. Mantivemos nossa conversa do lado de fora e momentos antes de ser servido o churrasco entramos para o salão (churrasco aliás reforçado com muito alho, fazendo com que eu até agora sinta os reflexos do excesso da iguaria). Aí começou a primeira parte de “show” de pagode. Até ia fazer uma capítulo especial, mas não posso. Olha, pelamordeDeus, que horror! Uma mistura de desafinação total com falta de harmonia entre os instrumentos entre outras coisas mais. Acompanhando o “ritmo” da gurizada, dois efeitos de luz que mais pareciam aquelas iluminações presentes nos cabarés de interior. Lusinhas coloridas com efeito. Muito meigo. Sinceramente..... Vou parar por aqui, já falei demais. Detesto ficar criticando outros músicos.
Houve uma segunda participação dos pagodeiros até que a cordeona roncou ao som do Fandangueiro. A sala veia pegou preço e surungo só parou porque eu mesmo encerrei por conta. No fim, me diverti com a situação toda, pois afinal, são ossos do ofício e ninguém está livre. Duros os ossos, neste caso.
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Abraço e boa semana a todos.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Não é por falta de pano

Já que o ano parece ter realmente começado mesmo, esta na hora de voltarmos a essencialidade deste bog tradicionalista: o tradicionalismo, evidentemente. Os nossos centros de tradições gaúchas recomeçam aos poucos suas atividades, fandangos e bailantas ressurgem com maior freqüência em todas entidades da região, enfim, as coisas vão retornando a seus devidos lugares. Confesso a todos, que a falta de eventos do gênero já estava me deixando perturbado, pois uma vez vivendo a música ela entra no seu sangue e jamais te deixa. Quando há um reconhecimento então, bom daí a vontade de subir ao palco é constante. De se contar as horas, os minutos e os segundos. Iria trazer aqui hoje um tema generalizado, não ia entrar em nenhum assunto que tratasse do nosso gauchismo, contudo parei-me à frente do computador e resolvi mudar toda minha estratégia, afinal, já esta mais que na hora de retomar a minha linha fundamentalista, tratando das coisas deste nosso Rio Grande velho campeiro.
O meu gauchismo é uma coisa que intriga as pessoas. Quando falo que sou músico as pessoas me perguntam de pronto: qual banda tu toca? Aí digo que é o GRUPO FANDANGUEIRO. O mesmo instigador complementa sua interrogação: Tu é gaudério? Respondo afirmativamente e aí vem como resposta uma conclusão exclamativa: Não acredito! Acreditem, em noventa por cento das vezes, é essa a reação das pessoas. Quando trato do assunto na universidade então, os números quase que batem a casa dos cem. O nosso povo esta tão descrente com os rumos que o nosso tradicionalismo tem tomado, que não acredita mais que a juventude pode se encorajar e tomar a bandeira do Rio Grande do Sul pra si. Utilizo-me freqüentemente do “porque”, e neste caso específico, “Por que tu não acredita que eu sou gaudério?” As respostas sempre são vagas, do tipo: Porque teu jeito de se vestir não remete a isso.
Aí tenho que confessar também que as minhas vestes do dia-a-dia de longe me caracterizam como gaudério. No cotidiano mais pareço um roqueiro desleixado, ou algo do gênero como já foi colocado por alguns. Aliás esta coisa de vestimenta já me gerou conflitos. Apesar de ser um filho de São Francisco de Paula (com imenso orgulho, diga-se de passagem), sou um profundo admirador das bombachas da fronteira, oriundas das vestes castelhanas. A saber, a bombacha castelhana é mais estreita, com menos pano, e o material utilizado na sua confecção lembra muito o jeans em alguns casos. Até o veludo é utilizado na produção da iguaria. Eu me sinto muito bem utilizando este tipo de bombacha e acho que não sou menos gaúcho por causa disso. Mas nem todos pensam assim. Certa vez meu primo e grande amigo Antônio, criticou-me (com muito afinco, diga-se de passagem) por eu utilizar este tipo de calça. Ele não deve mais lembrar da batalha que travamos via messenger, mas mesmo assim, que não me deixe mentir(hehehe). Na sua concepção (a época, hoje não sei), bombacha estreita marcava a legítima derrocada tradicionalista deste estado.
Não mudei meu pensamento por causa desta crítica, mesmo respeitando-a. A proporção de gauchismo de uma pessoa a meu ver, não está na bombacha que ela usa, no lenço ou no chapéu, mas sim na sua essência. A pessoa pode ser tradicionalista ao extremo sem nem mesmo usar pilcha (situação difícil de acontecer, mas não impossível), pois é no seu coração que mora o amor pela nossa cultura. Eu uso bombacha estreita não por falta de pano, mas sim por me sentir bem. Também uso bombacha larga, pois afinal é do Rio Grande. E sendo do Rio Grande é meu, e sendo meu eu defendo de qualquer um e a qualquer tempo.
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Forte abraço a todos e um bom final de semana.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Lagartixa e jacaré

Gostaria de saber o que se faz quando não sabemos o que fazer? Inevitavelmente todos já devem ter passado por situação semelhante, ou quem sabe, até estão passando no momento. Ando me questionando sobre diversos temas nos últimos dias, não que eu esteja necessitando de uma resposta para poder seguir minha vida, mas por saber que mais cedo ou mais tarde eu estarei numa sinuca de bico, as voltas de uma situação semelhante e aí precisarei tomar a decisão que é mais correta. Afinal, o certo é abdicar da sua felicidade plena em face da felicidade do próximo ou ser apenas feliz deixando todo o resto de lado? Existe um meio termo? Novamente recorro a maestria da inteligência de todos vocês, nobres leitores deste blog, para tentar achar uma resposta. Conhecimento de vida é de suma importância e nunca é demais.
Hoje é segunda-feira, dia dois de março de 2009. A saber, o primeiro dia útil deste ano corrente. Calma, eu não enlouqueci ainda(hehehe). Esta afirmação que faço, é baseada na cultura brasileira. O Brasil pára nos meses de janeiro e fevereiro. Sim, muito trabalham mas o ritmo é consideravelmente menor. As cidades ficam vazias nos finais de semana em face à debandada geral para o litoral. Novo Hamburgo estava calma nestes últimos dias, Porto Alegre certamente também. A partir de hoje tudo vai tomando o seu lugar novamente. Crianças, jovens e adultos voltam às aulas (sim as aulas começaram semana passada, mas certamente com um público bem aquém do real), os pais voltam ao trabalho, as empresas voltam a trabalhar em ritmo mais acelerado. As cidade se aceleram. De agora em diante, até o mês de agosto mais ou menos, todos ainda demonstrarão uma certa tolerância às peripécias do dia-a-dia. Em setembro a coisa começa a ficar preta. Escreveu não leu, o pau comeu (hehehe).
Fazer uma crítica fugaz às manias do povo brasileiro é o mesmo que bater em cachorro morto, não tem graça alguma. São coisas tão naturais que, bem, vou me ater por aqui. Num país em que um programa fútil como o Big Brother tem mais atenção do povo do que os problemas sociais que o assola, não se pode reclamar que o ano útil começa só em março. Num país onde a televisão é o principal meio de entretenimento (diga-se de passagem, deficiente, em virtude da fraquíssima qualidade da maioria das programações), não se pode reclamar que o ano útil começa só em março. Num país onde político corrupto não perde nem o mandato eletivo, não se pode reclamar que o ano útil comece só em março. Num país onde um deputado ganha em torno de R$ 18 mil, mais auxílio guarda-roupa, transporte, alimentação e coisas que não se pode nem imaginar, enquanto o povo passa fome, não se pode reclamar que o ano útil comece só em março. Cada país tem o que merece, infelizmente. Ó eu em polemica novamente.
Por fim, destaco minhas boas vindas aos habitantes temporais do litoral que começam a retornar aos seus lares e sua rotina. Criticá-los? Jamais. Até porque, o país não dá exemplo. Quem nasce pra ser lagartixa nunca chega a jacaré. Quem nasceu sendo colônia de Portugal, nunca chegará a ser colonizador de ninguém.
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Abraço a todos e uma boa semana.
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P.S.: Em meu nome e em nome do Grupo Fandangueiro, gostaria de lamentar o falecimento do guitarrista Vanderlei Jobim, o Meio-kilo, com passagem destacada pelo Grupo Rodeio e atualmente figurando no elenco do Grupo Marcas. Que Deus abençoe a ti e tua família. Descanse em paz.